sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MEMÓRIAS DA ILHA - CRONICAS


Nota para os não angolanos:

Há anos que utilizamos colaboradores brasileiros em diversas esferas, devido à nossa falta de quadros, ainda somos poucos, após mais de duas décadas de conflito fratricida. A nível da escrita, isso tem os seus preços, a mesma palavra em Angola não significa necessariamente o mesmo no Brasil, às vezes até é completamente oposta. Daí ter nascido esta crónica, quando no Jornal de Angola apareceu um trabalho obre o terno do Bush. Em Angola, terno, é um conjunto de marmitas onde os operários, sobretudo, levam a sua comida para o almoço. O terno brasileiro é o fato angolano (não confundir com facto, que é outra coisa e, aqui, aproveito para reafirmar que se lixe o acordo hortográfico, mesmo assim com h, pois só dá para sacar nabos, que estes sim, fazem uma saborosa sopa não culturalmente imperialista).


O TERNO ELECTRÓNICO

Fiquei pasmado ao ler uma notícia neste nosso Jornal de Angola, do dia 12 de Outubro corrente, imputando uma acção deveras reprovável ao alfaiate do presidente Bush, mas que no entanto, para nós, só poderá ser atribuída ao seu cozinheiro. Ao confirmar-se provada tal acusação, a de o terno do presidente revelar uma saliência duvidosa, o candidato às próximas presidenciais dos Estados Unidos da América ver-se-á não só em maus lençóis como igualmente tido por trapaceiro para quem tudo vale.

É grave, e é por isso que acho que o Jornal de Angola deveria ter feito previamente uma averiguação, como mandam as regras do verdadeiro jornalismo de investigação, porque notícias como essa, podem ter enorme influência nos resultados eleitorais norte-americanos, para alem da possibilidade de causarem uma provável indigestão ao nosso bom do Bush.

Não se alarmem caros leitores, o presidente norte-americano certamente que não vai mandar invadir Angola, mesmo sendo o nosso petróleo cada vez mais precioso para ele, por achar que o Jornal de Angola representa um verdadeiro perigo.

Eu é que estou preocupado que o refinamento das técnicas de escuta e transmissão de mensagens, chegue ao extremo de se colocar pontos electrónicos em ternos, utensílios que se usavam no passado para transporte de comida, e dos quais ninguém mais se lembra, muito menos numa América!

Já viram o que é um emissor no meio de sopa quente ou escondido dentro da posta do peixe frito? É só o Bush distrair-se um pouco com as réplicas do Kerry, e lá vai o dito cujo pela presidenciável goela abaixo, numa garfada mais ávida. E se por acaso o tal de transmissor estiver escondido no seio de uma batata frita, ou se for daqueles último modelo, dentro de um grão de ervilha, nada nos garante que a dentadura do presidente continue boa, ou que não venha a ouvir do seu estômago a seguinte mensagem.

“Hey boss take care, that is not the answer!… Don’t tell Kerry that we really just wanted to bomb the hell out of Saddam…! (Quem não fale inglês que peça ao Jornal de Angola para traduzir, se não ainda me vejo metido nesta estória de espionagem contida em ternos. Deus que me guarde!)

Notícias como esta podem representar um verdadeiro perigo para o nosso diário matutino, já que têm o condão de demonstrar o quão implicado está com o Bin Laden. A prova, caros leitores, é a demonstração do refinamento das técnicas usadas pelo Jornal de Angola, colocar um ponto electrónico de escuta no terno de Bush, mesmo que eu não perceba porque é que o homem teria que comer ao meio do debate. É ou não é a sublimação do terrorismo internacional?

Depois, para disfarçar, ainda vêm cá com o conto do costureiro presidencial, um tal de Georges de Paris, como se fossemos todos burros. Já se viu costureiro a colocar microfones e afins em ternos? Deixem lá mazé o coitado em paz. Se a saliência no terno se acentuava sempre que o Presidente cruzasse os braços ou se inclinasse para a frente, certamente só poderia ter dois motivos.

O primeiro. Todos que viram no debate o terno com a tal de saliência acusadora, teriam que saber que a referida só poderia ter sido produzida com uma martelada ou algo parecido. O senhor jornalista, por acaso viu o Bush a martelar qualquer outra coisa a não ser o juízo e a paciência do Kerry? Então?!...

O segundo. O cheiro da comida estava a agoniá-lo e desejava vomitar, sensação com que eu também fiquei depois de ler a notícia.

Aconselho que o Luís Fernando, director do Jornal de Angola, escreva imediatamente tanto ao Scott Stanzel, responsável pela campanha de Bush, quanto à Nicolle Devenish, directora de comunicações da mesma campanha, pelo menos para que a nossa tranquilidade seja preservada. Com o Bush não se brinca, quem não sabe? Porque é que não se colocou toda essa aparelhagem espionística no fato do homem?

17/10/04

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