DE HOMENS, PORCOS E OVELHAS
Não deixei de sorrir ao ler nas “Curiosidades” do Jornal de Angola, sobre a prisão de um homem por ter tido relações sexuais com um porco.
Imaginem!
Tantas foram
as questões que se me colocaram e a tal velocidade, que por fim já não sabia
como chegar a uma conclusão.
Tentei ver
os direitos do cidadão suinófilo, e verifiquei que cada um come do que gosta,
ainda por cima se for carne de porco.
Tentei ser
magnânimo e defender a honra violada do porco, pôr na balança o peso do seu
predestino, indagando-me se não viria a sofrer muito mais na facão, chegada a
altura.
Achei,
portanto, que o porco, se tivesse visão, deveria ter mantido aquele
relacionamento na clandestinidade e não ter nada de que se ter posto para ali
aos gritos, sem o mínimo de pudor. Todos conhecemos quanto grita um suíno,
ainda por cima norte-americano, bem alimentado, 56 quilos de alta e vitaminada
ração, cientificamente preparada, e de fazer inveja, em termos de proteínas, à
alimentação de muita criança mundo afora.
Se decidiu
bater com a língua nos dentese desatar a gritar exactamente no momento em que a
mana do pacato Austin Gullette passava, dando a conhecer ao mundo aquele amor
incompreendido e viril, o que esperava?
Outra
questão que me transcendeu, foi a da irmã (não é mencionado o nome da delatora)
ter ficado envergonhada por nunca ter visto na vida dela alguém fazer aquilo a
um animal indefeso.
Foi essa a
palavra, indefeso, que de imediato fez acender uma luz de protesto. E se o
animal não estivesse nessa situação de indefeso, teria sido uma porcaria
permitida?
É que quando
toca a questões de quintas, fazendas e seus animais, incluindo as galinhas,
fica-nos muito espaço para a imaginação.
Recordo-me,
estava eu a estudar na então metrópole, isto em 1958, e de ter feito uma
pequena excursão, nas férias do verão, pelos Alentejos, o que me leva a evocar
dois acontecimentos.
O primeiro,
era que viajar à boleia naqueles anos em Portugal, era quase um exercício em
futilidade, devo ter feito mais quilómetros a andar a pé de que de carro. Por
isso tive muito tempo para ir apreciando os campos de trigo à bermas das
estradas.
O segundo,
foi aquele que aqui vos vou relatar, como sustentação à minha indignação de ter
sabido que um coitado de um veterinário qualquer, a pedido da irmã megera, teve
que abandonar as delícias do seu consultório para vir examinar a vergonha
ultrajada do suíno que, após o caso, começou a viver uma vida de miséria da
qual só a misericórdia do facão o salvará. Imaginem, deu para andar a
esconder-se à toa por tudo que é canto, e estar sempre assustado. Talvez a
irmão do coitado do Austin decida submeter o porco a um tratamento
psicanalítico para ver se recupera a saúde mental. Caso contrário, só lhe
restará mesmo mandar fazer dele torresmos.
Mas voltando
ao porco frio, já que a estória não mete vaca, estava eu encostado a uma cerca
à espera de que aparecesse uma alma caridosa ao volante de um carro que me
levasse mais para o sul, quando dou por um homem a ceifar o trigo ou centeio,
não distingo um do outro, junto à estrada Ao fim de umas horas, durante as
quais não passou carro nenhum, notei que o mesmo ceifara uma grande parte da
área plantada, mas deixara duas pequenas zonas em que não tocara. Quando se
aproximou, talvez para me informar que por ali raramente passariam viaturas,
não resisti à curiosidade e indaguei porque havia poupado aqueles espaços?
“Por razões
sentimentais.”, Respondeu.
“Desculpe,
razões sentimentais?”
“Sim. Olhe
naquele espaço maior, foi onde tive a minha primeira experiência sexual, talvez
com a sua idade.”, Retorquiu, com um sorriso de quem se lembra de memória
grata.
Curioso,
perguntei pelo outro espaço não ceifado.
“Ah, ali foi
de onde a mãe dela olhava!...”
“O quê? A
mãe dela?”, Perguntei, perplexo.
“Sim”
“E não disse
nada?”, Insisti, não querendo acreditar.
“Disse”
“E o que
disse ela?”, Continuei, a pensar que estava a gozar com a minha cara.
“Béééééééé!...”
Não imaginam
pois, caros leitores, como fiquei quando li sobre o coitado do Austin e da sua
possível prisão de cinco anos. Tivesse sido no Alentejo, ninguém se
preocuparia. Esses americanos têm a mania de que têm que estar sempre à frente
de tudo, até porque, segundo as palavras do xerife lá do sítio, o senhor Royce
Toney, que colocou o suninófilo atrás das grades, já havia relatos de casos
parecidos envolvendo cães, macacos e ovelhas, enfim, a banalidade diária. Mas
com porcos?!....
12/09/04
In "Memórias da Ilha" Nzila
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