terça-feira, 28 de outubro de 2014

A VISITA - TEATRO





Amanhã, dia 29 de Outurbro corrente, lanço a minha mais recente obra, uma peça de teatro intitulada "A Visita", na União dos Escritores Angolanos, para cuja cerimónia tenho a honra de convidar todos os que me queiram prestigiar com a sua presença. 


Eis o que o Professor Jomo Fortunato escreveu, num trabalho publicado no Jornal de Angola.


 ESCRITOR FRAGATA DE MORAIS


Dramaturgo retorna ao texto teatral  com “A visita” seu novo livro

Jomo Fortunato |

Da ficcção narrativa à teorização do fenómento literário, com um estudo pertinente sobre “O Fantástico na prosa angolana”, a obra de Fragata de Morais inclui uma das mais importantes investigações no domínio da história literária, com a Antologia panorâmica de textos dramáticos”, um estudo passível de integração nos conteúdos programáticos de ensino da literatura dramática angolana.
A dimensão sociológica do conjunto da obra de Fragata de Morais, enquanto cronista do seu tempo, poeta, e repórter da história, resvala na sátira social, nostalgia da infância, conflitualidade entre os bons costumes rurais, e a tentação dos hábitos perniciosos da cidade, tema plasmado no livro “A prece dos mal amados”, concretizada pela ousadia de uma escrita escorreita e simples, com sérias preocupações de natureza social e pedagógica.
Simples, e incisivo, Fragata de Morais explica assim a sua propensão para escrita: “Quando me perguntam de onde vem a veia para a escrita, geralmente digo que é um dom, que começou a revelar-se nas redacções que fazia na primária. A partir da segunda classe, sempre fui o aluno que melhores notas tinha em redacção e leitura. A escrita fluía naturalmente, claro que condicionada à minha tenra idade e percepção do mundo que me rodeava, mas a verdade é que fluía”.
Da história mais recente de Angola, a obra de Fragata de Morais, tem uma palavra de desencanto: “Há coisas que se passam em Katola que nunca vi em lugar algum. Recordas-te quando fomos para o Rwanda? De como todos fugiam do país por causa da guerra? Pois em Inkuna passa-se o contrário, todos fogem por cá por causa da guerra!”, respondeu Jean Pierre, sem brincar...”, escreve Fragata de Morais no livro, “Inkuna, minha terra”, uma crítica evidente aos que se benefeciam com a guerra, relegando para um plano secundário, o sofrimento alheio.
No entanto, a luta pelo reconhecimento não foi fácil: “Ao longo dos anos, fui escrevinhando coisas que achava terem uma profundidade e significado enormes, claro que só para mim. Já mais adulto, lembro-me de ter percorrido todas as editoras de Paris, sempre tendo o meu material amavelmente rejeitado, por esta ou aquela razão. Não desisti, e fui conseguindo ser publicado em pequenas crónicas nos jornais da diáspora portuguesa em Paris. Só na Holanda, em 1971, tive textos meus publicados em forma de livro, em duas antologias, uma de Poesia, outra de prosa. Continuei a publicar pequenos trabalhos avulso, lá onde aceitassem”,  lembra Fragata de Morais.
Estreia
É assim que, em 1982, Fragata de Morais publica o seu primeiro livro, tendo  sobre o facto, feito o seguinte depoimento: “Uma vez regressado a Angola, o falecido Costa Andrade, Ndunduma, surpreendeu-me ao devolver-me um manuscrito que lhe tinha enviado para Dar-Es-Salam, no início da década de setenta, para publicação. Claro que, com a Independência, os contos já não tinham significado, a luta era outra. Finalmente publiquei o meu primeiro livro, “Como Iam as Velhas Saber Disso?” e até ao presente, mantive essa linha, a de me preocupar em retratar nos meus livros personagens e vida rurais, na maior parte, sempre preocupado com a nossa angolanidade, a nossa natureza, incluindo a urbana. Vejo-me como um escritor com uma raiz forte, originária do interior onde nasci e vivi a maior parte de minha vida, até aos anos sessenta”.
Fantástico

Ainda no domínio da investigação da história literária, “O fantástico na prosa angolana” (2011), de Fragata de Morais,  é um estudo singular no seu género: “Quando me veio a ideia de elaborar a presente antologia, de imediato se me colocou a grandeza e delicadeza da tarefa, face à vasta gama de escritores nacionais, e sobre o que eu poderia considerar de imaginário, de fantástico, de real e ou de irreal, entre muitas outras considerações, numa sociedade em que as fronteiras entre o mundo visível e aquele invisivel sempre estiveram tão intimamente ligadas. Face à oralidade das sociedades africanas, da qual Angola não teria como escapar, este universo de ambiguidade não poderia deixar de ter residência visível nas diversas obras dos escritores angolanos que, ao longo dos séculos XIX e XX, foram férteis na produção de textos em que diversos mundos se interligavam com acontecimentos estranhos, acontecimentos que com muita frequência fugiam ao entendimento de serem ou não reais face à percepção do aceitável e ou do credivel”.
Percurso
Filho de Mário Augusto Barbosa de Morais e de Maria Alice Fragata de Morais, Manuel Augusto Fragata de Morais, nasceu no Uíge, no dia 16 de Novembro de 1941.  Dividido entre a política e a literatura, Fragata de Morais foi jornalista, actor, dramaturgo, cineasta, tendo frequentado a Universidade Internacional de Teatro em Paris e a Academia Holandesa de Cinema. A convite da Academia de Artes Dramáticas da Holanda escreveu, realizou e encenou os seus trabalhos de teatro infantil, designado, “Gupia”.  Fragata de Morais apresentou os seus trabalhos no “Holland Festival” e no “Berlin Kinder Und Jugendtheater”, em 1971. No The Frist Company, seu próprio grupo teatral,  realizou, encenou e actuou em “The Indian Wants the Bronx” de Israel Horowitz, “Fando e Lis” de Arrabal, bem como “The Hole”, “Agonies “ e “Sketches”, todos da sua autoria. De 1972 a 1975, frequentou a “Nederlandse Film Akademie”, produzindo para a televisão holandesa, documentários sobre Angola. Tem pulicação dispersa em vários jornais e revistas, é cronista do Jornal de Angola, membro da União dos Jornalistas de Angola, Deputado pela bancada do MPLA, e foi Vice -Ministro da Educação e Cultura.
Crítica
Sobre “Inkuna-minha terra” (1997), obra paradigmática de Fragata de Morais, o saudoso escritor, Henrique Abranches, disse o seguinte: “Esta pequena obra do escritor Fragata de Morais constitui para mim uma leitura penosa de onde saí deprimido, não porque eu não conhecesse que a verdade está por trás de muitas das suas estórias, como todos nós que não andamos a dormir conhecemos tão bem. Mas ele soube ser doloroso por vezes ousadamente controverso, quase provocatório. A coragem que passa nalguns dos seus contos, como “Jogo de Xadrez”, ou as “Amizades”, tem traça de um combatente , de alguém que não quer ser derrotado, porque não acha justo, e embora não saiba triunfar, soube ver e sofrer com o que viu ( Martinha), é um bom exemplo, entregando ao leitor a batata quente”...
Obra
Fragata de Morais publicou: “Como iam as velhas saber disso”, INALD, 1982, “A seiva”, INALD, 1995, “Inkuna, minha terra”, Menção Honrosa do Prémio Sonangol de Literatura, UEA, 1997, “Jindunguices”, Prémio Literário Sagrada Esperança, INALD, 1999, “Momento de ilusão”, Campo das Letras, 2000, “A sonhar se fez verdade”, INALD, 2003, “Antologia panorâmica de textos dramáticos”, Nzila, 2003, “A prece dos mal amados”, Campo das Letras, 2005, “Sumaúma”, UEA, 2005, “Memórias da Ilha”, Nzila, 2006, “O fantástico na prosa angolana”, Mayamba, 2011, “Batuque Mukongo”, UEA,2011, e, mais recentemente, "A Visita", UEA, 2014.
Lançamento
“A visita”, teatro, é o novo livro de Fragata de Morais  a ser lançado no dia 29 de Outubro de 2014, as 18h:00, na União dos Escritores Angolanos. Em “A visita” o autor conduz o leitor a uma saga amorosa, que envolve os seguintes personagens: Carla, uma senhora, viúva,  da classe média de 45 anos de idade, que dialoga, de forma mística, com o falecido marido, Tonecas. Dany Boy, também conhecido por Daniel Bengo, seu nome próprio,  o assaltante, com cerca de 35 anos de idade, “bem aparentado e bem falante, usa bigode, denota estudos e certo berço. Janota, outra personagem do livro, é  filho de Carla, jovem com cerca de 25 anos. Surgem ainda  Lucinda, igulamente da classe média, conselheira e amiga de Carla, e Sargento Bolingó, um polícia simpático e cumpridor da lei. O plano da história desdobra-se numa relação amorosa entre Carla e Dany Boy, viúva e assaltante, respectivamente, sob o olhar do viúvo, Tonecas, com a cumplicidade de Lucinda e do filho Tonecas. No fundo o livro acaba por ser uma pertinente reflexão sociológica, sobre os  costumes da tradição e os  valores, muitas vezes perniciosos, da modernidade.