quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

COMEÇOU 2011


COM O ADVENTO DO INÍCIO DE 2011, ESTE BLOGUE JÁ PERCORREU METADE DO SEU SEGUNDO ANO GRAÇAS AO ENCORAJAMENTO E PARTICIPAÇÃO DE MUITOS, O QUE AGRADEÇO COM CARINHO E AMIZADE.

SEM VOCÊS, DIFICILMENTE A MOTIVAÇÃO INICIAL PREVALECERIA.

CONTINUEM, POIS, A HONRAR ESTE ESPAÇO E A PRESTIGIAR-ME E EM BREVE SAUDAREMOS A ENTRADA NO TERCEIRO ANO.
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sábado, 1 de janeiro de 2011

SUMAÚMA



DEMÊNCIA


Na demência da palavra

pelas obscuras vielas

do pensamento

o poeta

mastiga altivo

o grito da impotência


e sorri

uivos clânicos

ao ziguezaguear da chuva

evaporada do capim

retorcido

MEMÓRIAS DA ILHA - CRÓNICAS


O SINDROMA DOS QUARENTA

Tenho um amigo que, chegado à da meta quarentona, desenvolveu uma invulgar preocupação existencial.

De súbito tudo deixou de ter significado e o mundo que lhe era tão belo, tornou-se num grande e infindável ponto de interrogação, perdido no cosmos da sua ansiedade. Navegava, agora, num mar de questionamentos e dúvidas. O coitado sofre, ou pelo menos assim parece.

E sabem porquê? Porque pensa que ultrapassou o Rubicão, sente-se velho, vê-se avô desde que a Paulinha, a filha, anunciou a sua gravidez. A revelação cilindrou-o com o peso de uma manada de elefantes.

Começaram, então, as agonias e as longas noites de ansiedade.

O Joca, o tal amigo de quem falo, que ocasionalmente parava em minha casa, começou a aparecer mais amiúde. Determinou que seria ali que a sua canoa existencial soçobraria ou seria levada a bom porto, as suas dúvidas seriam ali esclarecidas e a ansiedade eliminada.

Não que eu assumisse qualquer papel psicanalítico funcional, esse desempenho estava reservado à minha garrafa de whisky, porém, eu possuía a feliz capacidade de, nos intervalos dos seus extensos monólogos existenciais, despertar metodicamente com um “pois é, pois é” salvador. Ficava, deste modo patente o sentimento de carinho e interesse devotados.

O Joca, numa noite de particular angustia, revelou-me que negara fogo, no campo das doces batalhas conjugais. O monakaxitu (bazuca) não disparara.

“Porra, pá! Não consegui o segundo tiro da noite, pela primeira vez”, disse ele, torturado.

Ao rir-me, cortou relações comigo às três da manhã, por achar que a minha desatenção tinha ultrapassado os limites da tolerância e da amizade. Eu não havia, segundo ele, levado a peito a sua angústia.

É que, para não o estar a ouvir mais sobre as suas refregas conjugais, eu perguntei ao Joca se ele conhecia a diferença entre o medo e o terror.

Claro que ele não conhecia, muito menos depois de meia garrafa de whisky já varrida. Quando olhou para mim com olhos de carneiro mal morto, eu, ferino, expliquei-lhe, que medo, era aquela situação que ele me descrevera, não conseguir o segundo tiro da noite pela primeira vez, para usar as suas palavras. E que se não parasse com essa conversa mole, terror, seria o que conheceria em breve, ao não conseguir o primeiro tiro da noite, pela segunda vez.

Isto será razão para bons amigos se zangarem?

O FANTÁSTICO NA PROSA ANGOLANA



JACINTO LEMOS

Nasceu em Icolo e Bengo a 21 de Janeiro de 1961, e, para além de ser um prosador nato que utiliza um cativante discurso assente no linguajar popular, é ainda um homem das artes cénica e plástica. Esta sua obra, da qual retirámos alguns excertos, mereceu o Prémio Sonangol de Literatura 2001, na altura o maior galardão literário nacional. Tem vários livros publicados.


A DÍVIDA DA PEIXEIRA

– Não mi matam os filho! Mi perduam!, mi perduam só!– pedia Sá Rosa, ajoelhada em frente as amigas – eu não sabia! Juro, não sabia... que essa dívida era pra si pagar com a vida dos filhos. Mana Fatita, mana Marta, mana Maria Simão, favor... favor minhas amigas, minha conpanhera do uenji (negócio), recebem o dinhero... aceitam o dinhero.
Com o dinheiro embrulhado no avental entregava ora numa, ora n’outra, que só lhe olhavam em silêncio.
– Mana Maria Simão, quando ti bati a porta pra ti pidir o impresto deste dinhero, bati com bom curação, mana Maria. Bati com bom curação. Não sei porquê mi fizeste esse pecado. Devias mi falar, mana Maria... devias mi falar!, que este dinhero qu’stamos a ti imprestar é dinheiro de uanga (feitiço) porque nós samo já parente. Samo já família. Aqui no bairro, minha família é você que acompanha a minha vida. Que sabe onde passo, que sabe o que faço pra criar esses môs jingongo (gémeos); como é que m’i’sconde esse segredo? Him?!, como é que mi’sconde esse segredo mana Maria... como é?!... – Segura na ponta do pano, limpa as lágrimas, assoa o ranho, e vira pra as duas senhoras – mana Fatita, m’ajuda só dessa vez... não vou fazer mais impresto sim pruguntar!... Nunca mais vou fazer isso... mana Maria, favor, mi recebe o dinhero. Sei qu’stou errada. O mô erro foi de pidir o impresto sem pruguntar a manera de como pagar... devia pruguntar. Mas também a mana Maria Simão, devia mi falar, ela não mi falou...
Sá Marta faz sinal, pra Sá Rosa lhe seguir até no quarto. Sá Rosa poisa o embrulho do dinheiro na frente das duas (Nga Fatita e vizinha Maria Simão, a dona da casa), levanta e segue Sá Marta até no quarto. No quarto, junto da cama, havia uma mala, mala de porão. Por cima da mala, havia uma capela com muitas velas acesas. Sá Maria levanta a capela, poisa por cima da cama, abre a mala e diz pra Sá Rosa:
– Dinhero é que temos demais. Venha ver. Incosta.
Sá Rosa como estava parada junto da porta, chegou perto, encostou.
– Veja! A lhe apontar dentro da mala.
– Êh!!? – Se espanta Sá Rosa quase a gritar – isso é o quê mô deujo?!!
A mala estava cheia de dinheiro.
Sá Rosa nunca viu tanto dinheiro. Costuma só ouvir falar, que essas pessoas que trabalham com uanga de lumbongo (feitiço de obter dinheiro), têm malas cheias de dinheiro. Mas nunca viu. É a primeira vez. Ele é mesmo grande peixeira. Peixeira de fama. Conhecida em todos os bairros da cidade, como a Nga Zefa, Nga Ximinha, Nga Tonha Sá Minga, Sá Júlia, e outras. Mas nunca viu tanto dinheiro. Sá Marta a segurar a tampo da mala, olhava na Sá Rosa com um olhar de quem está a dizer:” ’Stás a ver o uanga que temos? Intrega os filho, se não queres que ti acontece o pior...” e fechando a mala diz:
– Dívida é dívida!
– Mas... mana Marta... eu...
– Dívida é dívida! – Lhe corta a palavra com voz seca.
– ‘Stá bem. Dívida é dívida. Eu sei. Mas a mana Maria Simão, podia mi falar. Ela não mi falou. Não mi abriu. E logo-logo dois filho... eu que só tenho dois, não acha que é muito?
Sá Marta não responde, lhe segura no ombro:
– Vamos, vamos na sala.
E foram até na sala. E na sala Sá Marta apanha o dinheiro e entrega na Sá Rosa:
– Toma, leva o dinhero!
– Ai mana Marta, favvor, m’ajuda já!...
– Leva a merda do tô dinhero! – Berra a Nga Fatita. – Não queremos dinhero, não intendeste ainda!
– Mana Fatita, mi perdua já... mi perdua mana Fatita!... Não mi mata os filho. Mi perdua, eu não sabia, mana Fatita...
- Maria tira daqui a tua vizinha! – Segundo berro de Nga Fatita.
– Mana Fatita não mi trata assim. Mi perdua, se ti fiz mal... mi perdua mana Fatita!...
– Maria, possas! – Outro berro de Nga Fatita. – Tira essa besta daqui pra fora, oh!
Vizinha Maria Simão segura na Sá Rosa:
– Rosa, vamos! Sai! Sai!...
– Mana Maria, m’ajuda só...! Minha vizinha, minha irmã...
– Sai! Sai!...
– Não mi trata ansim, mana Maria!, não mi trata ansim...
– Sai, sai pá!, sai... A lhe empurrar.
– Ai mana Maria ajuda os tôs jingongô! Não mata os amigo do tô filho!... tô filho vai andar brincar com quem? Quem vai andar lh’acudir?...
Vizinha Maria Simão nessa parte faltou pouco lagrimar. Desde que morreu o primeiro filho dela Minguito, o cassule dela Simão, sempre andou ligado com os filhos da amiga. Depressa disfarçou as
lágrimas com berros:
– Sai fora besta!, sai! Sai!...
– Eu mesmo?!, mana Maria, eu?!... Him! Him! Him! – Sá Rosa a chorar.
Atravessa o quintal e sai fora,. Mas Sá Marta se lembra das garrafas e grita pra ela:
– Rosa! Ó Rosa! Maria, chama inda a Rosa; lhi chama.
Vizinha Maria abre a porta do quintal, põe a cabeça na rua e chama:
– Rosa!
Sá Rosa regressa. E Sá Marta lhe entrega duas garrafas.Antes de receber, Sá Rosa pergunta:
– É pra quê essas garrafa?
– Recebe primeiro, depois vais saber.
– Não! Mi falam primero.
– Oh–pá, recebe só! – fitucou (exaltou-se) a Nga Fatita – És complicada ansim porquê? Him?
– Não sou complicada, mana Fatita. Tenho que saber primero. Porque foi ansim que aconteceu essa maca (assunto, conversa, questão) da dívida. Foi por não pruguntar...
– Recebe!
– Não recebo, mana Fatita!
– ‘Stás beincar comigo, Rosa?! ‘Stás brincar comigo?!
– Eu ... não ‘stou brincar, mana Fatita! Não ‘stou brincar... quero só que mi falam... primero...
– Recebe! Recebe lá, deixa de conversa...
– Não vou receber! Mana Fatita já é que sabe se mi faz quê. Eu não vou receber... sem mi falar...
– ‘Stão a ver essa besta da Rosa! ‘Stão lhi...
– Pronto! Deixa lá, mana Fatita! – Corta Sá Marta – deixa, vou lhi explicar.
E lhe explica:
– Cada garrafa entrega num dos filho. E manda soprar. Depois de soprar, tapa. Ao tapar diz “a dívida ´stá pago”. Essa hora como já passam do meio-dia, já não dá. ‘Spera quando ficar noite.
– Explica bem. Antes que essa burra troque tudo. – Diz a Nga Fatita na Sá Marta e acaba de explicar – A noite, só tem que ser a meia-noite. De dia, só ao meio-dia. Ouvisti? Agora vai...
Sá Rosa recebe recebe as garrafas. E diz a Sá Marta:
– Amanhã de manhã traz as garrafa, ‘stamos aqui a tua’spera.
– Mana Marta, quele a... a...
– Vai só fazer o que ti mandaram! – Corta a Nga Fatita.
– ‘Spera só, mana Fatita, quero saber se...
– Saber o quê? – A Nga Fatita era a mais má das três. – Vai andando mazé... besta de merda!...
– Lhe deixa mana Fatita – pediu a vizinhsa Maria Simão – lhi deixa inda, fala, quero saber quê?
– Deixa ‘star já!
– Fala! – Insiste a vizinha Maria.
– Deixa ‘star. Fica já ansim.
– É das garrafas que queres saber? Se é das garrafas, cada filho tem de soprar numa garrafa. Depois de soprar, fala: “a dívida ‘sta pago”, intendeu.
Sá Rosa não respondeu mais. Caminhou até na porta e saiu.
E diz Nga Fatita:
– Mi dá raiva essa tua amiga!
– Minha amiga só. Nossa amiga! – Responde a vizinha Maria Simão, que seguia a Sá Rosa em jeito de lhe acompanhar. [...]
[...] A manhã começou com muzumbi (chuva miúda). Sá Rosa pôs um saco na cabeça pra não molhar, pegou nas duas garrafas e saíu. Foi bater a porta da Maria Simão. Pouca sorte, não lhe encontrou. Falaram que foi na Samba ver a canoa dela que virou com a força do mar.
Sá Rosa regressou para casa. Mas cada hora que passava, ia lá saber se ela já chegou.
Na última vez que foi lá lhe ver, lhe encontrou. Vizinha Maria Simão estava a escamar peixe pra cozinhar o muzongué (caldo de peixe) dela. Gostava de muzongué de sardinha com pirão. Ele estava no quintal, logo que viu a outra entrar, baixou a cabeça, a fingir que toda atenção estava no peixe que está a escamar. Amigas de muito tempo, mas desde ontem tudo mudou.
Sá Rosa chegou, não lhe cumprimentou. Falou só:
– Posso falar o que mi trouxô ou precisa ‘sperar as tuas cumadres?
– Pode falar.
– Vim te pruguntar, se posso morrer no lugar dos môs filho?
– Você é que sabe. – Respondeu, sempre com a cara no peixe que estava a escamar.
– Se é eu é que sei, Antão milhor mi matam eu, e deixam môs filho. Môs anjos
da’guarda não têm curpa. Curpada sueu que vim ti pidir o impresto.
E desembrulhando o pano, pega numa garrafa, entrega:
– ‘Stá aqui. Toma!, vou levar só uma garrafa, a outra fica.
Vizinha Maria Simão não recebe. Faz sinal com a faca para poisar no chão. Sá Rosa poisa junto do pé dela, embrulha a outra garrafa e sem despedir, sai. Acabou só de sair, Nga Fatita e Sá Marta, aparecem. Ao verem a garrafa, perguntam:
– Mana Maria, essa garrafa é pra quê?
– É pra guardar. A Rosa é que trouxô... ‘sta aqui, agorinha mesmo que ela acaba de sair... e contou o que se passou. No fim, acrescenta a Nga Fatita:
– Falaste bem. Lhe respondeste bem. Ao menos morre ela primeiro e deixa o caminho livre. Ou não é isso mana Marta?
– É isso. Porque se a gente matar primero os filho, ela pode querer nos prussiguir.
- Nos prussiguir?! Xê, ‘stás falar ou ‘stás brincar?
– ‘Stou falar, mana Fatita. Com aquela dor de perdeu os dois filho duma vez, e com conselho das pessoa...
– Ah, não!, deixa Marta! – Corta Nga Fatita – Isso não!
– Mana Fatita, dor é dor, quando venha ponha a pessoa aluada...
– Deixa disso, Marta!
– Mana Fatita és muita teimosa. Deujo não sei porquê nãi ti fez mbora home.
– Xê, não mi fala em ficar home. Não gosto.
– Não gosta, mas duvidas parece home. Eu e a mana Maria é que temos coração de mulher. Não é mana Maria?
Vizinha Maria pensativa, não responde o que a outra lhe pergunta, fala outra coisa:
– Milhor vamos matar já só ela. Já que veio si intregar...
– Mas si intregar de quê? – Se exalta a Nga Fatita. – Combinamos como? Não combinamos pra matar os três?
– Ou não é isso? – Olha pra Sá Marta.
Sá Marta não responde, fica só a olhar a vizinha Maria naquele jeito de espantada.
– Eu não ‘stou dizer que não é isso que combinamos, só que ela veio...
– Mas veio o quê?! Mana Maria, ‘stás dar raiva, oh! – Fituca a Sá Marta desta vez.
– ‘Stou dar raiva de quê antão.
– ‘Stás dar raiva sim. ‘Stás dar raiva. Quando é pra matar pessoa do nosso lado, ficas a dançar rabo, agore quando é do tô lado, ficas a pôr fintas. Ansim não mana Maria. Ansim não.
– Mas fintas de quê que ‘stou pôr. Falar que milhor vamos matar só a mãe e deixar os filho, é pôr finta?
– É pôr finta, sim, é pôr finta...
– Aié? É por finta? ‘Stá bom.
– ‘Stá bom porquê, mana Maria?
– Você sabe porque falei ‘stá bom.
– Não sei.
– Sabes.
– Não sei.
– Sabes. Tudo que falo pra você não é nada. Não serve, porque o que fala não tem
perna nem cabeça, sou mais velha burra. Mas um dia vocês as duas vão mi dar razão.
Vão si lembrar dessa minhas palavra, ‘sperem só.
As duas se olharam e gracejaram como única maneira de acabar com aquela conversa:
– Aiué mana Marié!, és mesmo nossa...
– Vossa quê? Vossa burra ou vossa tapada?
– Ah! Ah! Ah!
– Essa mana Maria, olha intão onde foi os pensamentos dela... [...]

[...] Depois o dia dava lugar à noite. E a noite dava lugar aos casos de Sá Rosa.
Que nessa hora, coitada, sem saber mais o que fazer, se sopra na garrafa ou se encosta ainda a cabeça na cabeceira como ontem, talvez volta a sonhar: “Sim!, adavez o Deujo mi olha mais hoji como mi olhou onte” e pede a olhar pra um calendário antigo na parede, com a figura de Jesus Cristo:
“Ngana Nzambi! Pai do céu, pai da terra. Mi dá só mais outra mostração como onte. Favor, Ngana Zambi!, favor pai!... – E encosta na cabeceira, dorme.
E como que Deus lhe ouviu, o mesmo sonho d’ontem veio de novo. Ela no meio do buraco a arder e a gargalhar:
– Ah! Ah! Ah!
De repente pára porque a mulher que estava a tocar o batuque, alonga o pescolo e enrola as duas garrafas. Sá Rosa s’apercebe que ela ia botar as garrafas novamente no buraco, ameaça a mulher:
– Maria!, cuidado! Cuidado com os môs filho, Maria!...
Sá Rosa deu conta que era Maria Simão devido um sinal de queimadura que trazia na chucha direita.
– Eu já ‘stou a pagar a dívida!... já ‘stou pagar...
Mas a mulher, lança as garrafas no fogo. Sá Rosa s’assusta:
– Ai mô Deujo!, que sonho é esse?!
Senta na cama e tenta lembrar o sonho todo. Quando se lembra:
– Eh!? Querem mi matar junto com os môs filhos, mô Deujo! Minha vida! ‘Stou perdida! ‘Stou perdida!...
Desce da cama, pega no pano e sai fora, na rua..
– Minha vida! Querem mi fechar a casa... querem mi fechar a casa!... Aiué!!...
– A correr em direcção à casa da velha Masoxi. Logo que chega, empurra a porta do quintal, entra e se põe a gritar:
– Aiuéé! Aiuéé!, velha Masoxi–éé, querem mi fechar a casa. Querem mi fechar a casa! Aiuéé!!! – A rebolar ali no quintal da velha. - M’ajuda!, ‘stou perdida! Favor, m’ajuda!, aiuéé, velha Masoxiééé!
A gritaria não acordou só a velha Masoxi. Acordou também os vizinhos. Que alguns sem mais tempo de dar a volta, pularam o quintal na pressa de saber o que aconteceu com a vizinha:
– É o quê?!
– Quê que foi?!
– Si passou quê?!
– Quem quero ti fechar a casa?!
– Quem vai ti fechar a casa?!
– Rosa, pára, sossega!
– Dá inda atenção!
– Mana Rosa, tata!
– Arranja sossego, sossega inda!
– Fica com carma!
Todos querem saber o azar da vizinha, não lhe pouparam nas perguntas. Duas vizinhas lhe pegaram e lhe amarraram um pano no peito pra tapar as chuchas. Sá Lemba correu dentro da casa da velha Masoxi buscar água pra lhe despejar na cabeça. Outra que é a Sá Cunstância, correu buscar na casa dela uma trança de tabaco de kimbundo (folhas secas de tabaco não tratado, que se entrançam), porque estava dar sinal de desmaio. Velha Masoxi que tinha pegado a cabeça, deu conta também do desmaio e gritou pra a vizinha Lemba trazer depressa a água:
– Lembééé!. Lemba!, depressa...
– Mas ‘stá a fazer o quê ai dentro, sinhora Lemba!? – Berro do homem dela. Sõ Filomeno.
– Água! Água! – Gritaram todos que estavam aí.
– ‘Stou vir já! – Responde a vizinha Lemba que nas pressas s’aproximou com uma foia dágua na mão.
– Tanta demora, só pra trazer água! – Sô Filomeno a mostrar zanga na mulher.
– ‘Stava inda prucurar o tamborão d’água... afinal o tamborão ´stá masmo na minha frente a mi olhar.
E entrega a foia na velha Masoxi que depressa despeja a água na cabeça e no peito de Sá Rosa. Nem com isso, desmaia. Desmaio leve. Vizinha Palassa s’apressa em ir na trás da Sá Cunstância. Velha Masoxi fala nos três homens que estão ali que eram Sô Filomeno, vizinho Caspara e Sô Domingos, para levarem Sá Rosa lá dentro.
– Mano Filomeno, mano Caspara e ai o mano Domingos, vamo, vamo lhi pôr lá dentro.
Os três pegaram na Sá Rosa com a ajuda das senhoras, lhe levaram lá dentro. Não demorou muito, entraram a Sá Cunstância e a vizinha Palassa. Velha Masoxi como conhece bem essa esperteza de reanimar a pessoa com tabaco de kimbundo, assustaram só, Sá Rosa está tossir e a perguntar se está aonde:
– ‘Stás na casa da velha Masoxi, mana Rosa. – Lhe responderam.
– Ai mô Deujo!, ai a minha vida! – Com as mãos na cabeça.
– Sossega. Sossega inda, sossega. A lhe pedirem.
– Não sosseho, não. Já sei porquês ‘stou aqui... - Desce da cama – Vão mi fechar a casa... vão mi fechar a casa, a Masoxi ‘stá onde?
– ‘Stou aqui! – Responde a velha.
E le chega junto da Masoxi e diz:
– Vão mi fechar a casa velha Masoxi! Vão mi fechar a casa...
– No quem? – Perguntou a Masoxi.
– Vão mi fechar a casa...! Vão mi fechar a casa...
– Quenhé que vai ti fechar a casa. Quenhé? – Volta a perguntar a velha.
E la não responde, continua só a dizer: “vão mi fechar a casa! Elas querem mi fechar a casa...”
– Mas elas quem?! Elas quem, Rosa?! Elas quem?! – Velha Masoxi toda fitucada faltou pouco se dividir no meio, só de raiva.
– Carma, velha Masoxi, não fica ansim... – Pediram as pessoas ali no quarto.
– Fica com carma. Não ponha amiaço!, lhi prugunta devagaro, kimuano!
– Sá Rosa ‘stá parece é pessoa que ‘stá vir masambisambi (maluqueira)
– A velha a suar com a conversa procurou ter calma e baixando a voz, chama:
– Sá Rosa!
– ...!
Rosa não responde, ficou só a olhar na velha. A velha pergunta:
– Quenhé sueu– É a velha Masoxi.
– Agora mi ouvi, Rosa.
Deixa passar bocado tempo, depois continua – Agente não sabe que ‘stá si passar.
Só você é que sabe. ‘Stá intender?
– Sim.
– O que quero ti fechar a casa, você lhi conhece?
– Sim.
– O nome, a cara, tudo?
– Sim.
– Antão nos fala. Porque queremos saber quenhé.
Sá Rosa fica inda parada como que ‘stá procurar lembrar. Depressa o suor começa a lhe cair da cara.
Vizinha Lemba olhou bem o suor a correr na Sá Rosa e da maneira que os olhos lhe estão a andar, fufuetou (segredou) no ouvido de Ngá Lumingo, pra ninguém ouvir:
– Lhi venderam. Rosa lhi venderam no maiambola, esse olhar mi faz lembrar a finada minha tia Massada quando lhi venderam.
Nga LUmingo queria responder, mas já não deu porque ouviram a voz da Sá Rosa a dizer:
– É a Maria! É a Maria quero mi fechar a casa.
– Que Maria?!!! – Perguntaram todos espantados.
– A Maria Simão!
– O quêêê?!! A Maria?! A Maria Simão?!!!
– Sim, é que mi vai fechar a casa... ela... e duas amigas que moram na Samba... porque lhis devo dinhero... aiuééé minha vidé!, aiuééé! Aiuééé!...
Todos ali no quarto perderam a fala só de admiração. Maria Simão ali no bairro muita gente sabe que é irmã de Sá Rosa, só pela amizade.
– Mas dinhero, é dinhero de quanto?! – Pergunta a Nga Lumingo.
– Não adianta! Não adianta falar a quantia... a quantia não é nada... não é nadé!... ai...
– Fala!!! – Berraram todos.
– Ao menos vamo juntar. Samos muito aqui... podemos juntar o dinhero, inda que for uma mala de dinhero que deveste, vamo juntar... fala!
Nga Lumingo senhora de meia-idade, já mubande (exaltada).
– Xisa! Ara xisa! Não podemo ti perder, mana Rosa, fala se é dinhero de quanto que deves?
– A maca não ‘stá na quantia – Responde Sá Rosa.
– Intão é o que?! Qualé a maca?!
– A maca é que elas mi rejeitaram o dinhero. Falaram que em troca dá dívida querem vida de pessoas.
– ÊH – Êh – Êh!!! Todas puseram as mãos na cabeça.
Velha Masoxi que estava sentada levantou, tirou a catana ali no canto, correu na porta da saída. Sô Filomeno, mais o vizinho Domingos s’aperceberam do que a velha ia fazer, lhe pegaram:
– Velha Masoxi, não faz isso! – A lhe pedirem – Não faz confusão!...
– O caso é de morte, favor velha Masoxi, fica com carma.
Velha parece queria ir esquartejar a Maria Simão. Velha Masoxi os calundus de muito tempo já, da finada avò dela Sandavua, lhe veio:
– Atxa – txa – txa! – A gesticular pra lhe largarem – Mi deixam! Mi deixam chatiça!
Mi deixam!... Vou lhi cortar...!
– Não faz isso velha! – Sô Filomeno ao dar conta do nguzu (força) da velha, alerta no vizinho Domingos pra pegar a velha com nguzu de homem forte. Nessa altura já tinham lhe recebido a catana. E não sei como é que foi. Assustaram só ali, o vizinho Domingos lhe atestaram contra a parede.
– Mi deixam chatiça–home! – Gritou a velha.
– Mano Domingo, como é?! ‘Stás drumir ou quê?! – Perguntou Sô Caspara, que veio ajudar e pegou a velha com nguzu de homem.
– Foi... foi distraíção! – Respondeu cota Domingos a reparar a camisa no trás, que rasgou com a força da baçula (queda).
Velha tinha nguzu dela ainda. Depois mais com os calundus (espíritos) a lhe vir, não podiam lhe poder se não fosse Sô Caspara. Sô Caspara habituado a levantar sacos e caixas ali no porto de Luanda, tinha nguzu que chega de poder a velha. E lhe pediu. Ele e mais Sô Filomeno. Cota Domingos não se meteu mais.
Depois da velha sossegar, olhou o vizinho Domingos e disse já só:
– Mano Domingo, mi discurpa! Eu quando ‘stou com mô avó na cabeça não olho quem ‘stá na minha frente. Mi discurpa papá.
– Não si trapalha velha. ‘Stava com distraíção.
Nga Sesa queria lhe perguntar, se é distraíção ou molesa, uma mulher t’arrumar na parede daquela maneira, depois velha. Como estão no meio de conversa grande, não falou. Lhe olhou só.
E quem levanta a voz é Sô Filomeno:
– Velha Masoxi, milhor vamo pôr essa conversa fora. Ao menos todos ficam saber do que ‘stá si passar com a mana Rosa!... Porque si fechar com essa conversa grande é pôr fundura no buraco que a Maria Simão cavou pra mana Rosa. Si falei male, mo cortam esse cabucado.
– Falaste bem, mano Filomeno! – Responderam todos. E acrescentaram alguns:
– É ansim mesmo!
– Temos que avisat todos!
– Ninguém farta ser avisadoPorque cada vez o que vai cortar a conversa, é aquele que não lhi avisaram.
E naquela noite tocaram latas: tom-tom-tom-tom...
Avisaram o bairro todo. Maria Simão foi a primeira a lhe bater à porta.
– Quenhé, essa hora?
– Sueu Masoxi!, abre a porta.
Vizinha Maria Simão quando ouviu a voz da velha Masoxi, veio depressa abrir a porta. Todos ali no bairro pegavam respeito a velha.
– É o quê?, velha Masoxi?! Há maca?!
– Sim há maca! Maca grande! Amanhã mi eincontra em casa. Amanhã de manhã cedo.
– ‘Stá bem velha Masoxi, amanhã vou ti incontar.
Naquela manhã o quintal da velha Masoxi, não estava mais poder com a gentada.
Pessoas sentadas, outras de pé, outras a entrarem, estava mesmo cheio. Todos queriam saber a maca da dívida e infim dele. E antes de começar as conversas, algumas senhoras começaram pôr confusão na cara da Maria Simão, a lhe dizerem:
– Isso não si faz!
– Tua vizinha e amiga do coração, vais lhi matar? Him, vais lhi matar?
– Vais lhi matar porquê se ela veio ti trazer o dinhero. Vais lhi matar porquê? – será que desde que vieste morar aqui no bairro, nunca adeveste ninguém? Nunca?! Nunca, Maria, nunca?!
– Prontô!, prontô, vamos já cumeçar com as conversa! – Pedia a velha Masoxi, a bater palmas – Mana Lemba, mana Lumingo... tempo ‘stá passar! Sossegam! Calam, si calam!... e calaram.
- A maca que mi fez bater as vossas portas, é da mana Rosa que adeve a mana Maria Simão. E a mana Maria Simão, quero lhi fechar a casa por caso da dívida. Onde se adeveram, eu não sei. Não ‘stava lá. É isso que eu chamei todos pra saber, se que dívida é essa que faz matar a outra, até os anjos da guarda. – Pára um bocado e acrescenta
– Só desde onte qui mi veio esta conversa, a duença do coração ‘stá parece ‘stá mi vir outra vez.
E lhe responde a velha Sumba naquele jeito de lhe receber a palavra:
– Como é que a duença do coração não ti venha, mana Masoxi, se essa conversa é conversa grande. Quando onte mi bateste a porta e mi informaste este cabucado, o sono mi figiu. Não drumi mais. Fiquei com os zolho aberto caté demanhã. Mana Masoxi, mano Luka e vocês môs filho, me ouvem bem que vou falar. Se nós não cortar essa conversa como deve ser, aqui no bairro o fitiço vai entrar. Porque ansim que cumeçou já a Maria, é caminho que abriu! Ou é mentira?
– É verdade! – Responderam.
E tirando o lenço na cabeça, amostra os cabelos brancos a dizer:
– ‘Stão a ver estes cabelos brancos?
– Sim, ‘stamo a ver.
Amostra também a bengala.
– ‘Stão a ver este muxi?
– Sim, velha Sumba! ‘Stamo a ver–
– Pra chegar caté aqui precisa ter coração limpo. Se fosse mulher de sentar nas casas dos kimbandas, eu hoji não podia chegar nos cabelos branco, nem pegar muxi para andar. Môs filho, colocam isso na cabeça. O inimigo do fitiço é o coração limpo. O fitiço não gosta de pessoa que tem curação limpo. É mentira que ‘stou a falar mana Masoxi e mano Luka?
– É verdade! Responderam.
– Você se não faz male no ninguém, não tem medo do fitiço. É mentira?
– É verdade! – Voltaram a responder.
– Eu já incontrei na frente da minha porta uma dibunda de uanga (trouxa, embalagem, de feitiço). Peguei com as mão, não mi fez male. Não ti faz male, se tens tô curação limpo. O fitiço so ti faz male, se ti incontra com o coração sujo, como vocês que ‘stão pisar lugar que as vossas mais velhas nunca pisaram, ah! Isso sim! O fitiço ti pega, e vão morrer mais cedo que agente. [...]

[...] – Mana Rosa, venha já informar os casos, como si passaram. Depois é que vamos ouvir a mana Maria Simão...
Sá Rosa chega no centro. Coitada ficou magra. Emagreceu muito, só desde ontem. Todos notaram. Notaram também que está com o começo de aluação. Prova disso são os chinelos que tinha calçado. Cada pé, outro chinelo.
Nga Titina pergunta numa vizinha sentada perto dela:
– Mana Rosa ‘stá vir masambisambi ou que?
– Sim, ‘stá ansim desde onte.
– Eh!, isso é vida mesmo?! É a vida?! – A levantar a voz – Fazer ansim a outra só porque quero dinhero...
Velha Masoxi pede silêncio.
– Mana Titina vamos inda ouvir a mana Rosa. Nga Titina se cala.
E Sá Rosa começa assim:
– Eu já não queria. Não queria mais fazer o impresto porque mô coração depois ficou pesado. Essa trança aquio (a mostrar a trança da frente) mi deu sinale. Mi apertou. E eu sou ansim; se quero fazer uma coisa e a trança mi aperta já, não faço mais. Mas a
mana Maria Simão mi falou que não faz male. Toma, leva. Inda pruguntei se qualé dia que vão precisar do dinhero. Ela não mi respondeu. Mi falou leva, leva só... eu falei não,
deixa’star já... não quero mais, mas ela mi siguiu até na porta...
– Eh!, vejam só, afinale a outra já não queria levar o dinhero...
– Obrigar a outra a levar o dinhero, afinale é pra lhi matar. Já viram, essa bruxa de merda
– Calam! Calam inda!... deixem a mana Rosa cabar de falar.
– Acabar de falar mais pra quê, velha Masoxi?! A Maria é bruxa! Quero matar a outra pra ter dinhero, é isso. [...]

[...] Vizinha Maria Simão sentada ali, não podeu responder uma palavra só. A boca estava seca.
E os fala-fala na frente dela acompanhando com apontar de dedos na cara, continuaram. [...]

[...] Aquela hora estava já s’aproximar a hora do meio dia. O sol com aquele andar de caxexe, estava mesmo a subir. A subir parace cágado, parece dinongoena (camaleão, na língua kimbundu). E a maca ali na gajajeira como que a subir também com o sol, chegou mesmo no ponto alto, das pessoas não poderem mais com raiva. E encostaram na Maria Simão para lhe darem um atesto. Mas a Sá Rosa passou no meio da confusão e levantou a voz:
– Não lhi tocam! Mi ouvim!, favor, mi ouvim!...
E pararam para lhe escutar. Ela chega junto de Maria Simão, ajoelha e diz:
– Maria!, eu vou pagar a tua dívida como você quero!... vou pagar a dívida com a morte...
– Mas não pode!!!... – Gritam algumas pessoas ali – Não pode!
– Não pode pagar a dívida com morte!...
– Você aceitou pagar a dívida mana Rosa!... como é que vais pagar a dívida com a morte? Him?
– Isso é quando agente nega de pagar. Agora com o dinhero na mão... Ah!, não! Não mana Rosa! Não’stás pensar bem...
– Mi ouvim!... mi ouvim ainda só... – pediu Sá Rosa. Mas nada, ninguém lhe deu atenção.
– Mesmo essa sacana da Maria, na cumeçada quando andou arrasca com a vida, não ia mi pidir dinhero pra acrescentar no dinhero do uenji. Não mi ficou com os trocô?! E qualé o uanga que eu lhi fiz?! Him?! Qualé o uanga que eu lhi fiz, pra hoji
querer matar a outra...
– Não é só você, mana Lumingo. Eu também mi ficou com o troco e nunca lhi cobrei... [...]

[...] Sá Rosa continuava ajoelhada na frente da vizinha Maria Simão, falou:
– Eu vou pagar a tua dívida, Maria! Vou pagar a tua dívida! Porque fui ti incontrar na tua casa!... Eu é que fui prucurar a minha morte!...
Pára um pouco e continua:
– Eu vou morrer! Por-caso dessa dívida! Mas ‘stou t’avisar Maria!, não toca nos môs filho!! Não toca nos môs filho, Maria!! ‘Stou t’avisar!! Se você tocar nos môs filho, Maria – nessa parte ela bate as mãos no chão – Vou ti matar!! Não vou ti dar tempo de
fazer uanga pra fechar o o mô Nzumbi!...
E tirando a garrafa embrulhada no pano, sopra na frente de todos, tapa e diz “adívida «stá pago” e lhe entrega a garrafa. Vizinha Maria como estava a demorar receber a garrafam choveram berros de todos os lados:
– Recebe só sacana!
– Recebe!
– Bruxa, fiticera dum raio!
Uakamb’o sonhi! (Não tens vergonha!)
– Fiada puta!
Muloji, suja de merda!
Recebe?
E recebe a garrafa. Algumas pessoas se puseram a chorar.
– Aiuéé vizinha Roséé!
– Him! Him! Him!
Os choros chamaram mais gente e cada vez que entravam perguntavam:
– Como é Antão? Como é que ficou a conversa?
– Ficou que Sá Rosa vai morrer mesmo! Him! Him! Him!

In A Dívida da Peixeira, União dos Escritores Angolanos, 1...