terça-feira, 16 de novembro de 2010

III SEMINÁRIO LITERATURA, GUERRA E PAZ - Em torno da vilência: palavra, corpo e imagem








Este encontro, que fez parte do VII Seminário de Literaturas de Língua Portuguesa: Portugal e África, teve como organizadores a Universidade Feral Fulminense, no Rio de Janeiro, através da sua Faculdade de Letras e do Núcleo de Estudos de Literatura Portuguesa e Africana.
O VII Seminário buscou dar continuidade ao espaço de discussão criado no Instituto de Letras da Universidade Federal Fulminense, em que se vem reavaliando a ampliando reflexões teórico-críticas que fundamentam o estudo das Literaturas produzidas em Portugal e África de língua oficial portuguesa.
Em 2010, realizou-se conjuntamente com o III Seminário Literatura, Guerra e Paz, evento internacional lançado na Universidade de São Paulo, em 2006, e realizado pela segunda vez na Universidade Politécnica de Moçambique, em Maputo, no ano de 2008, devendo (ainda sem informação confirmada) Angola albergar o próximo. O evento teve como pano de fundo o repensar da literatura em língua portuguesa produzida em torno da Guerra, com ênfase na guerra colonial de Libertaçã0 Nacional e em diversas guerras civis que tiveram lugar a partir dos processos de independência dos países africanos.

IV ENCONTRO DE PROFESSORES DE LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA PORTUGUESA












Este IV Encntro decorreu, de igual modo, em Ouro Preto, com uma vasta participação de escritores angolanos, nomeadamente o autor deste blogue, Luandino Vieira, Pepetela, João Maimona, Abreu Paxe, Jacques dos Santos, Kanguimbo Ananás, Akiz Neto, entre outros mais.
O tema central deste grande evento foi "África - dinâmicas culturais e literárias", numa realização da Pontfícia Universidade Católica de Minas Gerais, a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal de Ouro Preto.

O FORUM DAS LETRAS EM OURO PRETO


Tive a honra de estar presente neste grandioso evento, e a infelicidade de não ter tido a possibilidade de apresentar uma comunicação, ao lado de Laurentino Gomes, moderados pelo Clóvis Bulcão, por razões que aqui não cabem. Todavia a grandesa do evento ficou marcada, sobretudo pelo destaque que deu a África e a Angola e por nos permitir o contacto directo com uma cidade que representa tão de sobremaneira elevada, quanto o esforço involuntário de milhões de africanos contribuiu para o desenvolvimento multifacetado deste nosso país irmão, o Brasil.

O Fórum das Letras

Promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e idealizado pela professora Guiomar de Grammont, o Fórum das Letras de Ouro Preto foi concebido com a intenção de promover o diálogo entre autor e público participante, além de valorizar a importância de Ouro Preto, Patrimônio Cultural da Humanidade. O principal objetivo do Fórum das Letras é a valorização da identidade e da diversidade da literatura dos países de língua portuguesa, através da cooperação mútua entre Brasil, Portugal e os países de língua portuguesa da África.

O evento visa a criação de propostas em comum para promover a leitura de forma geral e o acesso dos escritores de diversas culturas de língua portuguesa aos espaços de divulgação e difusão de suas obras no mundo.

O Fórum das Letras divide-se em Programação Principal, Fórum das Letrinhas, Literatura em Cena, Ciclo Bravo! de Jornalismo e Literatura e Via-Sacra Poética, além de exposições e diversos outros tipos de manifestações artísticas e folclóricas. Desde sua primeira edição, em 2005, o evento vem recebendo os mais importantes autores da literatura contemporânea. A seleção, que reflete o cuidadoso trabalho de curadoria exercido, oferece uma amostra significativa da produção literária do mundo atual.

A programação central do Fórum das Letras acontece no Cine Vila Rica, um dos mais belos cartões postais ouropretanos, localizado no centro histórico e palco de alguns dos mais importantes acontecimentos culturais do país.

O sucesso do evento ultrapassou também barreiras geográficas. Em 2008, o encontro originado em Ouro Preto ganhou sua primeira versão em Lisboa, Portugal e, em 2009, foi a vez da França. Convidados pela organização do Fórum das Letras, autores brasileiros foram atração do 5º Salão do Livro da América Latina, que aconteceu na capital francesa. Luís Fernando Verissimo e Zuenir Ventura, dois dos nossos mais conhecidos escritores no exterior, participaram do evento por meio de debates e conferências, e falaram sobre o mútuo fascínio que sempre caracterizou as relações entre os dois países.

Este ano, para festejar os 300 anos de fundação de Vila Rica, cujas comemorações tiveram início em 8 de julho de 2010 e se estendem até 8 de julho de 2011, o Fórum das Letras vai homenagear a África, continente matriz da formação da história e da diversidade cultural do Brasil, sobretudo da antiga Vila Rica, hoje, Ouro Preto.

MEMÓRIAS DA ILHA - CRONICAS


Nota:

Sou digno habitante da Ilha de Nossa Senhora do Cabo, também conhecida por Ilha de Luanda. É uma maravilhosa língua de areia, produzida pela corrente do rio Kwanza e, não obstante estar completamente descaracterizada, ainda é um dos lugares mais procurados por todos, já aí se alojarem quase todos os restaurantes, bares, discotecas e, logicamente, praias. A Ilha das Senhora do Cabo tem um festa tradicional que se realiza todos os anos, com bastante pompa e circunstância, todavia, por me encontrar ausente do país, não participei este ano. Como tributo, aqui vai uma crónica que escrevi em 1994 sobre a mesma, claro em outros anos de outras realidades.


A FESTA DA ILHA

Desafio abertamente qualquer um a contradizer-me, a desmentir-me que, quando a kianda (sereia) era alimentada com o cartão de abastecimento do Ministério do Comércio Interno, a festa da ilha não era muito melhor, muito mais viva, alegre e participativa. E olhem, até nem chovia para estragar tudo, precisamente no momento exacto em que as kalundús (mulheres sobre as quais baixam os espíritos), em seus garridos trajes vermelhos, desciam ao bordo do mar iniciando a cerimónia. Foi um Deus que me acuda com todos os presentes a bazar, porque molhar-se no mar é uma coisa, é digno e estimulante, ser molhado à toa e de sapatos, é outra.

Será que as divindades dos ares (que nome terão, aviandas?) ficaram enciumadas porque para elas não se vê sequer a TAAG ir pôr toalha rendada e farta nas nuvens, e toca de mandar água farta cá para baixo?

Esta festa, como a passada, andou fraquinha. Bem sei, os tempos estão difíceis. Com uma chapa de zinco a cinco milhões, não há barraca que se aguente montar. Minha amiga Antónia, que mantém barraca de comida nos Trapas (mercado assim chamado em honra dos Trapalhões) lamentava-se, amargamente arrependida, ter solicitado autorização para colocar uma filial à berma da estrada, para estes três dias.

“Ai vizinho, a grade está quase a quatro milhões, o frango a dois e meio, agora ainda com a chuva as massas não aparecem...”

Coisas da inflação e da kianda!

Porém o melhor da festa para mim, foi a parte explicitamente cultural e que não teve nada a ver com a Organização. Fui arrancado do noticiário, aí por volta das 20.45, por um alarido enorme na rua. Para meu espanto, cliticlop, cliticlop, cliticlop, passa diante da casa, em furiosa cavalgada, um boi nativo.

“As pacaças do parque fugiram oh meu Deus!”, foi logo o meu pensamento, só para recordar que as ditas cujas devem hoje estar a falar Afrikaans. Uns dez minutos depois, cliticlop, cliticlop, cliticlop, o replay no sentido inverso

Eis quando da turba que já pensava ter-lhe saído o totoloto, um mais afoito ou cuja fome era mais acentuada, no melhor estilo de um Prudhomme que não actuasse no Benfica de Lisboa, mas sim nos Forcados de Santarém, em voo olímpico, consegue agarrar-se ao rabo do boi e lá ele arrastado, esfacelando-se todo no asfalto. Mas como a fome miseris est, ou ainda que, por um apurado instinto empresarial, não largou e o boi foi derrubado.

O que fazer a seguir? A turba quer o seu quinhão, sobretudo já corria a boca livre que os bois estavam a ser descarregados na floresta e iam para o Frescangol.

“Traz catana! Quem tem catana?”, gritava o nosso Prudhomme forcado.

E a catana que não saía!...

Finalmente, o meu vizinho Delfim produziu um machado e a besta foi abatida, sem qualquer compunção, ali mesmo no meio da estrada, os condutores tentando adivinhar se tudo aquilo seria para a kianda. Antigamente só se punha churrasco, vinhinhos bons porque pelo resto a divindade era vegetariana. Mas isso era antigamente, hoje a kianda come muito, só que ninguém é que não lhe dá.

O boi abatido, sem dó nem piedade como referi, há que fazer a repartição, a divisão. Nesse momento até estive quase a sugerir que se arrastasse o animal para o meu quintal. Na repartição foi onde o nosso Prudhomme-forcado quis destorcer o rabo, mas não o deixaram.

“Quem lhe apanhou fui eu!...”, disse o voador esfolado.

“Mas nójú é que ajudámo!...”, replicaram logo vários empresários nacionais.

“O machado é meu!...”, lembrou vizinho Delfim.

“Eu só quero as miudezas para fazer jinguinga!...”, procurava a vizinha Mabunda.

“Quem lhi viu é su eu!...”, ouviu-se, de um miúdo atrevido.

Resumindo, estava quase a sair tiro, sai sempre e sobretudo porque ninguém quer, quando miraculosamente apareceu a amiga antiga, a outrora sargento Beti, hoje já com alta e devida patente, a pôr ordem naquilo tudo.

À distância, fez-se o velório dos bifes e da jinguinga, bem guardados por quatro polícias.

14/11/94

SUMAÚMA - POESIA






SOL

Sol nascente

poente

somente


lua crescente

minguante

ambulante