sábado, 9 de julho de 2011


Prefácio

Para mim, que raras ou nenhumas incursões tenho no domínio do ensaio ou da crítica literária, foi uma agradável surpresa ser convidado a prefaciar a presente obra.

Não o farei na forma convencional, rebuscando teorias e pontos de vista, sem me furtar a elas no entanto, mas sim ancorando-me no lado simbólico do convite e no apreço que me merece a iniciativa.

Como se sabe, desde o alvor da Independência Nacional e mesmo no período imediatamente anterior, assistimos a um grande movimento em torno da ideia de recuperação e valorização do imaginário ou dos imaginários angolanos através da literatura. Muitos títulos foram publicados com esta perspectiva, porém, até à saída da presente obra, não se tinha uma ideia de conjunto sobre o que efectivamente havia acontecido no domínio do fantástico na Literatura Angolana, isto desde Cordeiro da Matta aos nossos dias. Com efeito, até à edição desta Antologia, a questão do fantástico que, no nosso ver, não se limita apenas às práticas mágicas, mas estende-se também à aparição de factos inexplicados e teoricamente inexplicáveis não foi tratado, quer de forma sincrónica, quer de forma diacrónica.Vem pois

esta Antologia suprimir aquela lacuna e dar-nos uma panorâmica do fantástico na literatura angolana, este delicado género que no dizer de Jean Bellemin – Noél, vive da ambiguidade e no qual o real e o imaginário se devem reencontrar e até se contaminar. Isto mesmo poderá levar-nos a compreender o critério de escolha dos textos que compõem a presente obra de Fragata de Morais. Escreveu o crítico francês Jacques Chevrier que durante muito tempo a África “foi uma reserva de exotismo onde os autores de sucesso vinham buscar sem vergonha o pitoresco e a cor local reclamados pelo público Europeu ávido de sensações”. Cremos que, felizmente, tal situação se encontra ultrapassada como se pode comprovar por muitas obras africanas e, neste caso angolanas, que descrevendo a irrupção do sobrenatural na realidade, como a definição do Todorov mencionada pelo autor desta antologia, permite-nos fruir destes valores de maneira autónoma e dar um contributo ao universo simbólico e ao imaginário da língua portuguesa, no nosso caso. Por tal facto ganha notoriedade a presente obra, assim como pela circunstância da mesma vir demonstrar que o fantástico não é um género menor nem só reservado a crianças e jovens mas, pelo contrário, é um terreno muito vasto e rico que de resto revelou grandes nomes da literatura universal como Alexandre Dumas (Os Três Mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo), Théophile Gautier (A Cafeteira), Guy de Maupassant (Le Horla et la Chevelure), Merimée (La Vénus d’Ille), etc. Estas referências servem-nos para realçar a importância desta obra e do trabalho dos autores que deram e dão corpo à Literatura Fantástica Angolana, seguramente um percurso a explorar por muitos dos nossos autores que fazem o orgulho das letras angolanas.

António Antunes Fonseca

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