domingo, 1 de abril de 2012

BATUQUE MUKONGO




6

Pelo canto do olho

de um cão zarolho

aprendi a andar

seguindo o voo das andorinhas

nos ternos labirintos do salalé

que se alimentava da casa vermelha

onde o meu choro primeiro

se mirou nas paredes cobertas

de vários espelhos de cal

2 0 F R A G A T A D E M O R A I S

7

Quantos mais dessa rua

entre as ruas da memória esqueceram

a cidade onde ainda as sombras falam

a voz dos reis do Kongo

o longo sono dos escravos

tão longo quanto o vasto mar

de águas escuras

monstros e medos

sem sonhos

mar insano

mar prisioneiro

escoando dos matos e florestas

as lanças das guerras fratricidas

que esventraram o reino

o ébano grito horrendo

dos agrilhoados

do chicote do pombeiro

selva adentro rio abaixo

na boca voraz do jacaré

rio adentro rio abaixo

acorrentados nas velozes

naus de vento em popa

rumo de todas as Américas

sangue africano para a rega

dos milheirais

dos cafezais

dos canaviais

dos vastos campos de algodão

no Mississippi

no Ouro Preto das minas

em que o ouro foi o preto na minas

2 1 B A T U Q U E M U K O N G O

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