sábado, 14 de março de 2015

MEMÓRIAS DA ILHA - CRÓNICAS





O MUNDIAL

Decorridas várias semanas do término do Mundial 94, quiçá se possa referir ao evento com um pouco menos de subjectivismo e com maior probidade.
Não será intenção descrever os feitos da grande equipe brasileira e da sua mais do que merecida vitória, muito menos das técnicas e tácticas desenvolvidas e usadas nos campos pelo diabo-virado-santo Parreira.
É mister sim, e sem pitada de ironia, alertar desde já para as técnicas, e sobretudo tácticas, que poderão vir a ser impostas aos jogadores no campo do amor, no período dos mundiais. Esperemos cheios de alento que seja unicamente nos mundiais, porque se a moda esdrúxula passar para os campeonatos nacionais, Deus nos ajude, estará tudo perdido.
Num estudo elaborado e conduzido por dois pesquisadores israelitas, em cerca de quarenta jogadores de futebol daquele país, chegaram-se a indesmentíveis conclusões, que certamente não serão do agrado de todos, já que ao partir-se do princípio que todos os jogadores podem, ver-se-á que uns poderão mais do que outros, segundo a relevância física do posto. Consagra-se assim a máxima por nós bem conhecida, a cada qual segundo o seu esforço e trabalho.
Concomitantemente, a D. Maria, esposa amantíssima do guarda-redes Fulano de Tal, poderá ser agraciada com os favores e calores do extremoso marido até três dias antes do tira-teimas. Se o dito cujo for tão bom a furar a baliza lá em casa quanto é a guardá-la nos relvados, ter-se-á um momento nublado para a infeliz consorte, por três dias que sejam.
Todavia, se a D. Maria for esposa do avançado Sicrano de Tal, porque o desalmado exaure todas as energias correndo de um lado para o outro para meter o afamado golo, a coitada não poderá ver, na alcova, seu marido a avançar e meter o que todos sabemos que mete, oito dias antes da partida.
Que me perdoem os pesquisadores, eles próprios talvez maridos competentes, isto não é partida que se pregue a ninguém.
É evidente, que as esposas dos defesas são metidas a meio caminho, neste pesquisa, e lá em casa, devendo a abstinência sexo-desportiva decorrer a partir de cinco dias antes do páreo.
Por aí se poderá imaginar o sofrimento do futuro campeão mundial que, ao fazer todas as partidas, passará no mínimo um jejum espartano de mês e meio, isso não contando que o regime seja aplicado durante o período de preparação.
Não nos admiremos pois, se os treinadores desejarem levar a rigor os valores científicos das pesquisas, para benefício do desempenho da equipe que se venham a verificar violentas manifestações púb(l)ícas das esposas dos jogadores, com as dos avançados a liderar, unidas para jamais serem vencidas.
E para que elas se vinguem, sobretudo as consortes dos futebolistas do Petro Atlético de Luanda, aos quais é exigido muito mais que um tetra, com o resultante desgaste do arcaboiço e afins, é dever patriótico tornar público o nome e local de trabalho destes briosos e talvez inditosos pesquisadores.
Mas meditai antes, ó abnegadas damas, porque uma viagem a Israel é algo oneroso. O pecúlio hoje é escasso, não mais se viaja por duas grades de cerveja. Ser-vos-á mais fácil e prático permitir que os vossos maridos impunes furem o boicote, até porque o treinador não estará de vigília todas as noites e em todas as alcovas.
Quanto aos malandros, os senhores Alexander Olshanytsky e Mordechai Halperin, pesquisadores no Centro de Jerusalém para a Impotência e Infertilidade, não se encontrando ainda satisfeitos com os possíveis danos que venham a causar, desejam ir mais além e prometem pesquisa feroz nos restantes domínios do desporto.
Felizmente só jogo à sueca!

04/08/94


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