domingo, 2 de maio de 2010
O IMAGINÁRIO NO TEXTO ANGOLANO (NO PRELO)
BOAVENTURA CARDOSO
Nasceu em Luanda a 26 de Julho de 1944. É licenciado em Ciências Sociais e membro fundador da União dos escritores Angolanos, com vasta carreira no Governo. Autor de vários livros, segundo Luandino Vieira, é um escritor revelado no pós-independência e dono já, em sua bibliografia, de títulos importantes na afirmação e re-definição da literartura angolana contemporânea. O excerto aqui inserido faz parte do livro “A Morte do Velho Kipacaça”
A ÁRVORE QUE TINHA BATUCADA
Pintadas de fresco na memória, cenas de O Laço da Meia-Noite. Teimosamente: apesar do esforço. E passava das onze da noite, vinha assim do cinema, noctívago quase só. E vinha assim andando e assim andando, noctambulosamente, passos quase na fronteira luz e escuridão: linha divisória de espaços sociais. Tinha nó na garganta: medo engravatado.
Silêncio cortado: cão a ladrar. E acelerei então: o passo. Cacimbante, luarenta: a noite. Capim seco tinha então cheiro de queimadura. E tinha pirilampo, pontinho luminoso: adiante. Sem intermitência, não era pirilampo: certifiquei. E experimentei então descontrair assim: assobiando. Breve sensação de segurança.
Porém minhas pernas não estavam então acompanhar o esforço para me descontrair assim. Pontinhos luminosos agora estavam então aumentar. E parei: assustado. Mas impetuosamente veio então assomo de coragem: decidido, retomei o passo. Sob a minha cabeça. Os pontinhos luminosos. E dos lados: os pontinhos luminosos. Sem querer tossi então e alguém também tossiu. E tossi: tossiu.
Tossia e na noite luarenta ecoavam tosses. E retive então o passo assim e olhei assim para os lados: ninguém! Oh! outra vez: na passada. E assobiei então e o silêncio da noite que apenas de vez em quando era cortado pelo vento e o silêncio da noite se engravidou então de assobios. Fui! Fui! Fui! E deixei de assobiar, mas o silêncio continuou a se encher de assobios. E imobilizei então de novo o passo. E ouvi então. E decidi então: passinho progressivo. E ouvi então outra vez: vozes. Quem vem aí? - quem falou assim fui eu. Quem vem aí? - vozearam vozes. E parecia que as vozes estavam a vir então de uma árvore que estava: próxima. E ventava. Capim seco e galhos secos começavam então a rolar, a rolar a rolar assim pelos carreiros muitos. Fantasmas pareciam. E estava então calado. O eco é que então continuou vozeando: quem vem aí!!! E me sentia pequeno perante uma voz tão potente e cavernosa. E comecei então a ouvir, vindo da árvore que agora estava à minha frente, uma mistura de sons e ruídos e gargalhadas e batucadas e barulho de pratos e cães ladrando e gatos miando. E não estava a ver ninguém. E não me atrevi a dar passo. E fiquei então estático. Um som oco crescia e crescia assim: eram cabaças se entrechocando. E desceram então da árvore e vieram então cá em baixo se movimentando ás voltas, dançado. E não via ninguém de repente comecei então a ser esbofeteado. E tentei me esquivar, me defender: em vão. E aguentei bofetadas e pontapés até cair no desmaio.
Imponente, vertical, alicerçada na força telúrica, resistente às intempéries do Tempo e da Natureza. Caminhantes de todos os caminhos passavam. Uns passavam sem parar e outros paravam e lhe segredavam então. Caminhantes de muitos caminhos passavam. Uns cansados da caminhada paravam e descansavam para no corpo dela os seus sentimentos e desejos. De muitos caminhos, os caminhantes lhe veneravam. E tinha então caminhantes que vinham lhe fazer pedidos para resolver casos. Caminhantes de todos os caminhos iam passando. E uns passavam então e nunca mais regressavam. E tinha outros que passavam e repassavam. E a Chuva e o Frio e o Sol e a Noite e o Dia eram dos caminhantes que passavam. Guardava então segredos de muitos caminhantes e guardava lamúrias e desejos e sentimentos e queixumes. E guardava tudo então, porém não revela nada. E ninguém podia desvendar então o que estava lá encerrado. Um dia vieram então caminhantes armados de catanas e machados para lhe matar e ver então o que é que ela tinha lá dentro. Queriam lhe roubar as prendas valiosas que ela recebia de muitos caminhantes e que guardava então no seu corpo. E os caminhantes, depois de muitas horas e suado e extenuados, desistiram de lhe golpear com as catanas e os machados. E no corpo dela não havia então nenhum sinal e nenhuma marca e nenhum golpe. Por isso os caminhantes desistiram.
E no começo da estrada que dava para a Kaála, frondosa e imponente: a árvore. Durante o dia era igual a tantas outras. Na sua sombra os passantes vinham então se refrescar e recobrar energias para a distância longa. E descontraídas as crianças vinham então: lúdicas. Era uma árvore igual a tantas outras. E tinha gente que só dava por ela pela sua imponência. Durante o dia tinha então pássaros e passaritos e passarinhos que vinham ainda brincar nos seus galhos. E vinha então o Bulikoko, gigante e pousava na copa da árvore e nidificava e começa então assim sorridente té… té… té… e o Huicumbamba de pescoço dourado respondia e então uei… uei… uei.. Mas quem traquinava mais, salitante, era o Mukorikori, rabo de junco tri… tri… tri.. O Mukuku-a-tumba, esse não vinha sempre. Mas e quando vinha avisava então assim du... du du… eh! e a gente que morava cerca sabia que era a chuva que estava vir lá então das bandas de Kangambo, nuvens engrossando e passando pelo Cemitério e Kapopa e depois descarregava. Bons pássaros e passarinhos, amiguinhos de todas as horas. E tinha também uns pássaros que só vinham nas horas aziagas eh! kiiuik… kiiuik… kiiuik… era entaõ o Yngo, de crista alta. Mas quem metia mais medo era inda o Kakoko. Passava raras vezes. E pousava então mais vezes nas casas abandonadas, e nas torres. Quando vinha, o Kokolo se enfiava nos buracos da árvore e começava então a chorar, eh!
Era uma árvore normal e igual a tantas outras, até aquele dia. E depois tinha mais gente que, passando à noite pela árvore, fora então agredida. Tinha cada vez mais gente. E veio então a PSP averiguar e não viu ninguém. E no outro dia a cena se repetiu então. Notícia correndo, gente vindo. E até povo da Vila Matilde e Campo da Aviação e Kangambo até, desceu e veio então: curiosamente. E durante o dia era uma árvore normal e sem nenhum sinal estranho. De noite é que ninguém se atrevia então a ir lá satisfazer a curiosidade. E de dia uns lhe olhavam: respeitosamente. Os mais velhos descobriam então a cabeça e se inclinavam perante a árvore. E tinha até gente que mesmo de dia estava então evitar passar por ela.
Corria, bocante: a boca! Intrigado, Sô Administrador mandou então chamar os cipaios e falou assim vocês esta noite vão dormir na árvore para apanhar os bandidos. Estão a ouvir? Sim senhor Sô Administrador! - a resposta. Sô Administrador, ainda bem Sô Administrador está nos mandar então acaçar os bandidos que estão na Kaála, já estão abusar muito, Sô Administrador - quem falou assim então o chefe dos cipaios, nome dele conhecido de Cinquenta e Um por causa das palmatoadas até naquela conta que ele gostava então de palmatoar nos presos. E fiel servidor do Sô Administrador e sempre solícito na execução das ordens dele e bajulador, o Cinquenta e Um estava sempre singraxar no Sô Administrador. E quando tinha folga ia sempre na casa do Sô Administrador se oferecer para regar o jardim e baloiçar então com os meninos no baloiço e até mesmo lavar com prazer os pezinhos chulécheirosos do Sô Administrador. Os presos evitavam então dar encontro com ele. E um dia os presos estavam assim a trabalhar na estrada e assim a trabalhar e a carregar pedra e a britar pedra. E de repente chegou Cinquenta e Um e chicoteou então um preso que estava ainda descansar. E o preso se revoltou e lhe deu na cara. Ih! O Cinquenta e Um à noite veio então lhe buscar e nunca mais ninguém soube dele.
De manhã cedinho Sô Administrador tinha então no gabinete, agredidos e alquebrados: os cipaios. E vomitou raiva toda dele nos cipaios, disparatou as mães deles. Matumbos! Cobardes! Vocês são piores que as mulheres! Cinquenta e Um adiantou ainda dar explicação e a resposta do Administrador foi lhe abonar então uma série de bofetadas.
Sô Administrador, irritado, mandou então pôr cerco na Kaála: a rusga. Nada. E os bandidos não apareceram. Do gabinete dele todos os dias só ouviam então berros e disparates um monte. E ele andava então desorientado. Assim então resolveu comandar pessoalmente as operações. Se muniu então de armas e cordas e cacetes e mobilizou então cipaios todos e, à noite, pela calada cercaram a árvore. E com ele também estavam então alguns comerciantes.
No dia seguinte a notícia: correu. E Sô Administrador estava mal no banco de urgência.
Depois de ter pregado vários sermões contra os bandidos, Sô Padre decidiu também ir lá desafiar então o Satanás. E na árvore deixou a batina e o missal e os óculos e foi levado então em estado de coma. E nem as benzeduras lhe safaram.
Caminhantes. Vinham de muitos caminhos. Passavam e reparavam e olhavam: atónitos. Caminhavam caminhos de muitos caminhos e: vinham. E paravam e olhavam e olhavam e retomavam: caminhos. Caminhantes. Vinham de muitos caminhos.
Cortar a árvore! Cortar a árvore! - decisão tomada. Alguns aconselharam-lhe acorrentar primeiro e a deixar ficar assim pelo menos durante três dias. E assim os bandidos não podiam então fugir.
Sol ardente, Sô Administrador, Sô Padre, os comerciantes, meio mundo, todos vieram. À ordem de começar e os homens e dez homens à volta da árvore, começaram então a arremeter machadadas no tronco da árvore.
Ninguém estava acreditar então no que estava acontecer. E passadas mais de três horas desde que os homens tinham começado a amachadar, tronco da árvore estava na mesma: intacto. E os homens tinham já as mãos a sangrar e quase não se aguentavam de pé. Sô Administrador, esperançado, incitava os homens a prosseguirem e os homens prosseguiam então exaustos. E uns então começavam a cair, mas sob as ameaças da autoridade se levantavam então para depois caírem novamente. Seis da tarde: tudo na mesma. Sô Padre já tinha então se retirado, sem ninguém dar conta. E pouco depois, Sô Administrador, alguns comerciantes, com medo da noite, se retiraram também. E veio então a noite e com ela a batucada: outra vez então.
Caminhantes, a Noite e o Dia e o Frio e o Vento e a Chuva, caminhantes de muitos caminhos, caminharam e foram ter com a Tempestade. Lhe contaram então tudo o que se estava a passar. A Tempestade lhes mandou então esperar, enquanto se preparava. E depois partiram juntos caminhantes de muitos caminhos. Quem vinha no comando era a Tempestade. Caminhante, a Tempestade é quem estava a puxar todos: a Noite e o Dia e o Frio e o Vento e a irmã dela, a Chuva. Tempestiva e tempestuosa vinha então a Tempestade tempesteando. Por onde passava arrastava tudo: tempestuosamente. E chegou a assim, peito inchado e assim começou então a berrar em voz troante e gritante e ribombante e faiscante.
Companheiros da mesma caminhada, o Vento e a Chuva lhe ajudavam então a engrossar a voz. Troante. Intempestivamente a Tempestade se retirou. Com ela os caminhantes da mesma caminhada. E a árvore estava lá: firme, imponente e frondosa.
Os cipaios entraram apressados no gabinete do Sô Administrador e da lá saíram então pouco depois. Tinham de cumprir a ordem! Era uma ordem do Sô Administrador e eles sabiam que não podiam sequer contestar. Sô Administrador falou assim se não cumprirem com a minha ordem mando-vos todos nas minas da Kitota! Dito não tinha contradito.
Se puseram então a: caminho. Cinquenta e Um estava apreensivo e quase e quase não falava. Agora é que Sô Administrador me arranjou um trinta e um! - pensou no pensamento dele. Como é que ele ia convencer então o velho a vir em Malange se ainda no mês passado lhe tinha espancado? E o velho estavam lhe acusar então de ter enfeitiçado um comerciante, por isso um mês antes tinha estado na Administração. A carrinha ia rolando estrada fora e entrou na picada. Cinquenta e Um: cara dura, caladura, sem faladura.
Bocaram: a árvore tinha então milagre. Caminhantes, vieram: peregrinamente. Cegos e paralíticos e mulheres de ventre infecundo e homens sem geração e solteirona desamada e kafofo de visão camoneana e kaleijado coitadito e marido cornudo na tourada conjugal e caloteiro fugindo da cobrança e pobretão sonhando os milhões na lotaria. Todos: vinham. Caminhantes. Peregrinos. Vinham de muitos caminhos. Caminhos de muitas desgraças e: vinham. E partiam: desiludidos.
As mulheres, na lavra, só quando viram já a chevrolet verde, eh!, começaram a desaparecer bofele-felê, bofele-felê.
Carrinha parou: Camburi tinha ninguém derepente. E tinha só galinhas e cabras circulando. E fumo na cozinha era sinal de que o povo tinha fugido tinha momentos - Cinquenta e Um confirmou irritado. Bateram palmas e entraram para dentro das casas e nada.
Veio então a noite e nada. No relento da noite os cipaios dormiram ao relento. Cinquenta e Um: desconseguiu no sono. E pensou na surra que Sô Administrador lhe ia então surrar se voltasse sem o Velho. Ih!
Madrugada: Cinquenta e Um despertou cipaios. E despertos. Ordenou: buscas nas cercaduras. E porém: advertiu. Nada de brutalidades: tirar mel sem espantar abelhas. E os homens foram então e Cinquenta e Um ficou só assim: expectante. E no fumar tinha então ligação directa: cigarro acendia com cigarro.
Um a um gente regressando. Cipaios se excedendo em tácticas de tirar mel sem espantar abelhas. E Cinquenta e Um se animando, vendo gente vindo. Distribuía cumprimentos e sorrisos.
Gente receosa, desconfiando. Cinquenta e Um mandou descarregar carrinha: garrafões de vinho e malas de peixe e panos e cigarros e muita coisa. Gente desconfiando: mão que ontem trazia chicote, hoje trazendo mão cheia, benemérita. E Cinquenta e Um tinha cara alegre e estava a abraçar a gente então.
E o Velho estava aonde? Não estava aparecer. E Cinquenta e Um solicitou imenso que lhe fossem então chamar e o assunto era importante e tinha uma mensagem muito boa da parte do Sô Administrador. Repetiu: o pedido. Gente estava receosa, não estava então acreditar.
Cinquenta e Um então persuadiu: não trazia nem armas e nem cacetes e nem chicotes.
Veio: o Velho. Cinquenta e Um estendeu então a mão e o Velho não lhe correspondeu no cumprimento. E mostrando simpatia Cinquenta e Um botou então mansas faladuras. Falou assim então que o Sô Administrador lhe mandou chamar para uma missão importante. Eu sou feiticeiro não posso ir falar com o Sô Administrador! a piada do Velho. E secundado pelos cipaios, Cinquenta e Um insistindo. Tinha gente que na mira da oferta aconselhava então o Velho a aceder. E o Velho nada. Cinquenta e Um insistindo. E o Velho nada. Bola vai e bola vem, só duas horas mais tarde é que puseram: acordo.
De Camburi a Malange, viagem de nem duas horas estava então a durar dois dias. A carrinha que na ida não teve problema, no regresso estava andar e a parar. Andava e parava e o condutor descia e ia então lá à frente no motor ver então o que é que estava acontecer e depois manivelava e entrava na carrinha e a carrinha então começava a andar e depois outra vez estava a parar. E assim então foram andando. Andando e parando. Cinquenta e Um, cadavez a carrinha parava descia também da carrinha e olhava à frente no motor e ficava então a disparatar a mãe dele do condutor. Depois, a carrinha foi ainda se enterrar na lama e todos os cipaios desceram na carrinha e ouviram os disparates do Cinquenta e Um. Alguém que queria lhe lixar no Sô Administrador falou então para todos os cipaios. E então depois disparatou não só a mãe dele do condutor e também a mãe deles dos outros todos cipaios.
E Cinquenta e Um estava mais zangado porque o Velho não queria descer na carrinha. E queria se meter com o Velho e um dos cipaios na mãe dele do Velho eh! podia então piorar a situação. A carrinha andava e parava e o condutor descia e ia então lá à frente no motor ver então o que e que estava acontecer e depois manivelava e entrava na carrinha e a carrinha então começava a andar e depois outravez estava aparar. Dez paragens seguidas e Cinquenta e Um perguntou no Velho se não percebia nada de mecânica e se ele não podia fazer alguma coisa. E o Velho falou que não sabia nada de mecânica. E assim então foram andando. Andando e parando. Cadavez a carrinha parava os cipaios então não adiantavam: palavra. Cinquenta e Um estava então a desconfiar é o Velho que estava então a fazer parar a carrinha andar e parar e por isso lhe perguntou então outravez se o Velho não podia fazer nada e o Velho falou então assim nada. Cinquenta e Um tinha: fúria contida. E foram andando. Em cada paragem Cinquenta e Um estava xingar a mãe deles dos cipaios todos e falava então alguém que queria lhe lixar no Sô Administrador. E o Cinquenta e Um estava sempre com a vontade dele de bater no Velho e estava sempre a travar: os socos morriam nos punhos feitos nos bolsos. E assim então foram andando, andando, andando até chegar a Malange.
E o Sô Administrador já estava cá fora e vai e vem e vai e vem no quintal da Administração. E o Cinquenta e Um quando viu Sô Administrador estava então a passear no quintal começou então a tremer de medo. E para surpresa dele Sô Administrador quando viu então o Velho estava descer na carrinha começou então a sorrir e o Cinquenta e Um experimentou ainda sorrir e depois então, vitorioso, sorriu com o Sô Administrador.
Caminhantes. Vinham de muitos caminhos. Passavam e repassavam e olhavam: atónitos. Caminhavam caminhos de muitos caminhos e: vinham. E paravam e olhavam e retomavam: caminhos. Caminhantes. Uns passavam olhando para frente e outros passavam olhando para trás. Uns passavam com o Tempo e passavam e outros vinham com o Tempo e vinham. Só árvore é que não passava e não vinha. A árvore: estava.
De boca em boca: a notícia. A árvore ia ser derrubada! Foram buscar um Velho em Camburi que vai derrubar árvore! E o Sol nem tinha ainda meia andança e já tinha então gente muita à volta da árvore. E todo o mundo veio. E Sô Administrador veio. E Sô Padre falou então que não acreditava em feitiçarias e blasfemou o Velho, Satanás em pessoa
O Velho se ajoelhou diante da árvore e ficou assim algum tempo. E gente atenta. E depois subiu em cima da árvore e toda a gente começou a ouvir então gente conversando em cima da árvore: lá. E tempo depois, da árvore começaram então a cair trapos, penas de galinha, ossos. E caíram então as cabaças, muitas cabaças.
Ninguém se atreveu a falar. Não dava mesmo para falar. Eh! Eh! Eh!
O Velho desceu e ordenou então que os homens que começassem a cortar então a árvore. E os homens começaram pum! pum! pum! E cada machadada a árvore gritava ai! ai! ai! E o grito vinha do fundo das raízes e subia pelo tronco e se espalhava pelos braços da árvore. E a gente viu: o sangue. A árvore jorrava então sangue ai! ai! ai!
Seis da tarde a árvore batucante estava ainda de pé. E o Velho estava então transpirar no olhar furioso do Sô Administrador. Cinquenta e Um desconteve: a represa. Desembrulhou então a língua, enfureceu o cavalo-marinho, atiçou a besta e o rio arrastou pedras, cada pedra, pedradas, pedragulhos e rebentou então: o dique. O Velho foi nas águas.
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Livro a ser publicado pela Editora Mayamba
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