terça-feira, 1 de maio de 2012

BATUQUE MUKONGO


8

Nessa minha rua vermelha de barro
no Uíge na Uízi
cavalgam as sombras o futuro
no urro da onça desdentada
no riso ventríloquo das hienas
nos panos garridos da esguia ndua
sombras a dançar o xinguilar milenar dos ndoki
o bater fúlgido das asas das águias
nga nkala yi mbemba
nga nkala yi mbemba ya zungilanga vana mwelu a nzo
e ntangu’a mpasi ke ya ngangu ko ee yolela
e ntangu’a mpasi ke ya ngangu ko1
a hora da dor não é de esperteza
cantava minha avó na roda
para a filha já perdida
com um que viera dos mares
mas sempre cantava
e a dor morria
ao apagar a linhagem
ao esbater a forma
ao esvair da lembrança
ao apagar o traço da raça
nessa longa longa viagem
de quem parte sem volta
galopando a bicicleta ora velha
dos desejos e sorrisos retraídos
à luz do estafado candeeiro
a encher a sala de um véu diáfano de luz
onde se suicidavam as mariposas
num frenesim de bater de asas poeirentas

se eu fosse mbemba (águia)
se eu fosse mbemba para rodear à porta
a hora de dor não é de esperteza ee yolela
o tempo de dor não é de esperteza

9
Luz por onde se perdiam os meus olhos
Vislumbrando o esboço
da nova casa apercebida
no norte do Kwanza
rio sem idade
pleno da sabedoria dos mais velhos
e dos risos dos jacarés às suas margens
numa cidade de flores e de agoirento nome
Salazar no cataclismo de ser Mundo

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