OS SONHADORES
E acho que isso é um facto, as
realidades, os avanços conseguidos nas sociedades, são e serão fruto do sonho
de alguém que soube acreditar em si mesmo e partiu para a labuta, para a
concretização do seu desejo, da sua visão, da ânsia do querer. Todas as grandes
descobertas foram chamadas de loucuras, ou tidas sem futuro prático, mesmo as
mais recentes como o automóvel o que, fazendo um parêntese, me faz recordar uma
pequena fábula, quando começaram a aparecer as primeiras máquinas automotoras,
em que o burro, feliz, anunciava ao cavalo o seu fim, o homem não mais iria
depender dele para a locomoção.
“Se eu me tornarei indispensável
como cavalo, não sei o que será de ti como burro.”
“Ora, meu amigo, tu poderás ser
dispensado, mas burros sempre os haverá!”
Foram esses sonhadores que nos deram a nossa essência. Sem
esses visionários, ainda se acreditaria que a terra é plana, que não havia um
Universo e sabe-se lá o que mais. Jesus Cristo não seria hoje o que É. Buda
nunca teria penetrado o mundo que concebeu. Cristóvão Colombo nunca teria
chegado ao novo continente, não obstante os seus desígnios serem comerciais e
de direcção oposta, porque a força impulsionadora, para além das correntes
marítimas, foi o sonho pela aventura, pela crença de que do outro lado daqueles
mares, certamente algo o esperaria.
Todavia, os sonhos são os
espinhos da roseira e não foi sem propósito que o Cristo foi coroado com uma
coroa deles. A maior parte dos grandes sonhadores pagou caro pela sua visão de
um outro mundo, pela sua crença e fé numa outra ideia, pela proposta de uma
alternativa. Grandes sonhadores, como Moisés, como Ghandi, embora seguidos,
foram maltratados pelos que os seguiam, pois a natureza humana é invejosa e,
assim, as suas gerações os sacrificaram, de uma maneira ou de outra.
Se formos à Bíblia, entre muitos
profetas, encontraremos Isaías, o anunciador de uma mensagem que nem sempre
satisfez as coligações políticas dos chefes de Jerusalém, porque também
anunciava que “o lobo habitará com o cordeiro, o leopardo deitar-se-á junto do
cabrito, o vitelo e o leão pastarão juntos... o bebé brincará na toca das
cobras, e a criança meterá a mão no buraco da víbora”. E o que lhe aconteceu,
segundo relatos deixados? Terá sido serrado em dois.
Confúcio, cujos ensinamentos
ainda hoje são referência na China, foi de igual modo um visionário que desejou
um mundo melhor, confinado numa filosofia a que ele chamou a “Grande Harmonia”.
Em vida foi humilhado, vexado, para mais tarde, os imperadores citarem as suas
máximas, para o seu retrato estar em lugar de honra, para lhe serem construídos
templos e oferecidos sacrifícios, para ser chamado de sol e lua, tal a sua
glória. Assim como as asas das aves são as que sustentam o seu voo, assim é o
sonho para os sonhadores, para os que sabem que não há limites que o confinem.
Esta crónica é dedicada e visa
aqueles todos que sonham, que não desistem face à dura realidade, que sabem que
sonhar é olhar para a frente e crer em si próprio. Estas palavras são para
todos aqueles que sabem que é no ovo que está o futuro pássaro que, no meu
caso, seria a bela ndua fugidia dos meus anos de menino, nas matas do Zavula.
14/08/05
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