sexta-feira, 26 de junho de 2009
SUMAÚMA - POESIA
SUMAÚMA
DE MORAIS, Fragata
2005 UEA
Sobre a obra, Maria Nazareth Fonseca, Professora Doutora em Línguas Africanas, considerou o seguinte:
«Os poemas são construídos com uma intenção de investir no nível da figuração. Por isto é interessante observar como se elaboram as relações entre os títulos dos poemas e os versos que o compõem: por vezes há uma aproximação bem nítida entre a intenção do título e os sentidos produzidos pelos versos; outras vezes, a relação entre o título e os sentidos dos versos se faz pela vertente figurativa na qual as palavras são tomadas pelo poeta para distenderem sentidos previstos (Cf. Poema «Elefantíase», p. 16). A forma privilegiada pelo poeta busca a ligeireza, a captação do instantâneo, a mobilidade dos versos curtos e dos efeitos obtidos pela variedade métrica e rítmica».
TUA BELEZA
Tua beleza
liberta
na seiva
das acácias
paixões
que amansam
o pulsante
coração do colibri
em toque
de chingufo
adormecido
à luz
da lua
PRINCÍPES
Crianças
engraxadoras de estórias
do amanhã
está escrito
que os pastores sociais
os magos
das mil-e-uma-maravilhas
tocar-vos-ão com a varinha mágica
e vós pobres respigo da insensibilidade
sereis para sempre
os príncipes
do não ver
GUERRILHEIROS
Cantam cigarras
lendas
de heróis guerrilheiros
ao compasso leve
das veludadas lágrimas
da mafumeira
ou o capim
coberto de sumaúma
onde se esconde
o kazumbi vadio
TELENOVELA
Esvaziar-me
no mais recôndito
que escrevesse
consumir-me
no mais ardente
que imaginasse
extasiar-me
no mais lúbrico
que sentisse
escrever algo
que fosse
da vida
ainda que da ilusão
PLANTAR
Plantar
é nascer
no reflexo
natural
é medo à morte
vibrado na raiz
solo adentro
é vaidade
reverberada
vegetal
CELESTE
Depenei
um celeste
pena por pena
como se cada pena
fosse sumaúma
que serena
se esfuma
ÓBITOS
O olho do viandante
é rápido
não tanto
quanto os passos
gravados
pela peçonha
na cobra
o morto dança
sortilégios tribais
noites de óbito
ELEFANTÍASE
Meu embondeiro
a pingar múcuas
por raízes
dispersas em prece
jeitoso
elegante
sinuoso
Meu embondeiro
de espíritos albergados
na fundura do casco
em espera do viajante
Meu embondeiro
meu embondeiro
RUGAS
Rolam
as décadas
no semear
depauperado
da quimera
e no olho vítreo
da reminiscência
nem mais a sombra
das luas cansadas
reflecte no opaco
o soslaio
da tranquilidade
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