terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

MEMÓRIAS DA ILHA - CRONICAS


EROTISMO INFANTIL

Não será fácil falar de erotismo infantil, sem que se invoquem as reminiscências pessoais. As minhas memórias erótico-infantis são várias e ternas, contudo, talvez por ser as que considero pré-históricas, duas perduram em especial. A primeira leva-me ao meu inolvidável Závula, terra florida dos cafezais e dos morros perenes de verde, o pequeno rio serpenteando langoroso entre eles.

Nas tardes frias de cacimbo, era costume eu tomar banho com água aquecida, e ser ternamente lavado pela Rita. Oh doce Rita, quão eu me recordo de tuas mãos carinhosas! Teria uns cinco anos e a Rita uns doze. Pois durante esses banhos, não sei porquê, minha ainda “bazuquinha” crescia inexplicavelmente para surpresa e delícia de ambos. Aí a suave Ritinha dava-lhes uns piparotes, e acabávamos por rir a bandeiras despregadas às diversas reacções e efeitos, sempre numa sensação mútua de prazer e gozo inconscientes.

Como não há bem que sempre dure e mal que nunca acabe, uma tarde, minha mãe, agarrou-nos em flagrante delito durante uma variação mais ousada da brincadeira e, desmancha-prazeres, pôs fim permanente ao nosso alegre programa educativo. Não sem duas sonoras bofetadas em cada um, passando eu, oh miséria, a ser banhado pelo cozinheiro.

A segunda, um ano mais tarde, transporta-me a um lugar não muito distante do Závula, embora naqueles anos se levasse quase uma hora para percorrer, de carrinha, os vinte quilómetros que o separavam da Vila então Salazar, se na época das chuvas. À vila, já então jardim, meu pai arribava ocasionalmente para levantar dinheiro na Fazenda, comprar produtos vários, revisitar amigos, enfim, toda uma gama de motivos que permitiam que lá ficássemos uma, três, quatro horas ou mais. Nessas ocasiões almoçávamos no único hotel, em frente ao barbeiro e ao Santos Dinis.

Vila Salazar em 1947 era delimitada a leste pela via-férrea no Alto da Rosa, a Norte pelo Quartel, pela casa do electricista, o senhor Silva, a Oeste e a Sul pela igreja matriz cuja estrada levava ao fabuloso Kilombo.

Junto ao Clube, que se encontrava no jardim com o seu famosos caramanchão, encontrava-se a casa do doutor X (guardo os nomes, por deferência), mais proprietário de fazendas no Kitexe que médico em Vila Salazar. Pelos laços de amizade que uniam nossas famílias, era aí que eu ficava quando não desejava acompanhar meu pai.

Tinha, o doutor X, três filhas e um filho, sendo com as duas mais novas que, resguardados por uns cadeirões enormes na varanda, nos entregávamos ao jogo inocente do “mostra-me o teu, que eu mostro-te o meu”. Felizmente para todos não houve desmancha-prazeres algum e o jogo acabou naturalmente, exaustas as curiosidades sobre as diferenças anatómicas.

Há dias, em casa de amigos, seu filho caçula (mais novo) expressou desejo de fazer xixi, e a mãe logo se prontificou para a tarefa. Todavia a criança insistia que não, não era a mãe que o poria a urinar, mas sim a avó. Foi tal a insistência e tantas outras as recusas, que já a impaciente senhora quis, saber junto ao filho, porque é que teria forçosamente que ser a avó a pô-lo a fazer xixi, e não ela.

“Eu quero a vovó, porque a mão dela treme!”, respondeu lesto o gaiato.

14/05/93

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